| Spacca |  | | | 1º Lugar - Charge - João Spacca de Oliveira. |
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Eu estava na inauguração do 32º Salão de Piracicaba nesse último final de semana. O Salão do Humor, você já deve ter ouvido falar. É um dos principais Salões de Humor do mundo, com participantes da Rússia, dos Estados Unidos, do Canadá e, pasmem, até do Irã. Você sabia que no Irã tá assim de cartunista de bom humor? Pois então, está. A maioria dos participantes, no entanto, era de cartunistas daqui mesmo, do Brasil, tentando mostrar o lado bem humorado da atual crise política brasileira. Mas, pra falar a verdade, parece que, este ano, o pessoal não estava de tão bom humor assim. Sabe como é. Aquele povo todo, que faz charges, cartuns, caricaturas, de um jeito ou de outro sempre foi meio do contra. Eram, quase todos eles, membros ativos do que a gente chamava naqueles velhos tempos de "esquerda". E agora tá todo mundo meio sem graça. Alguns ainda tentam manter o bom humor, dizendo que agora está até melhor para os profissionais do ramo, porque tem muito mais material pra se fazer piadas. Dólar na cueca, malas cheias de dinheiro, o olho roxo do Roberto Jefferson, aquele outro que se chama Jacinto Lamas. As piadas já vêm prontinhas, e os caras só precisam mesmo é desenhá-las. Só que não dava pra esconder um certo clima de velório pelos corredores da exposição. A charge vencedora do Salão, do meu amigo Spacca, é bem um exemplo do que eu estou querendo dizer. O Spacca desenhou o Lula de olhos esbugalhados, num quarto sombrio, escondido atrás de um cobertor, no meio da noite. As cores escuras, carregadas, num clima de filme de terror. Em primeiro plano está o objeto que está causando tanto temor no nosso presidente: um dedo amputado, talvez o próprio dedo dele, vêm se arrastando em sua direção, como se fosse um pesadelo surrealista. Entende? Aquele dedo, que tantas falcatruas já apontou, dessa vez está se voltando contra o próprio dono. Ou ex-dono. E esse clima era mais ou menos o mesmo em quase todos os desenhos que a gente via por ali. E, muito mais que risadas, o que se ouvia entre os visitantes eram uns grunhidos doídos e umas risadinhas sem graça. A verdade é que, do jeito que as coisas estão, não há bom humor que agüente. Nem mesmo reunindo os melhores no assunto, como é o caso do Salão de Piracicaba.
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