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Crônicas
30/08/2022 - 06h15
Invasão de posse centenária - 1
Maria Angélica de Moura Miranda
 

Meu nome é Maria Angélica de Moura Miranda, pelos Moura sou descendente dos Moura Negrão, uma das primeiras famílias que chegaram para povoar a Villa de São Sebastião.

Meu avô Sebastião Justo de Moura nasceu na Praia de Toque Toque Grande, e aprendeu o ofício de marceneiro na fazenda que existia lá. Durante a vida inteira trabalhou com construção civil.

Meu pai Álvaro Moura seguiu na mesma profissão e com o tempo tinham uma construtora, meu pai era autorizado pelo CREA a fazer plantas até 100 m², trabalhavam em casa mesmo.

Na casa do meu avô havia uma serra de cortar as madeiras e tábuas para o serviço, ele ficou surdo de tanto trabalhar nessa serra. Naquele tempo era assim, quando pediam para construir uma casa, meu pai e meu avô iam conhecer o terreno, depois meu pai fazia a planta, e só então era feita a obra.

Na casa que estava sendo construída tudo era feito por eles, as janelas, as portas, o telhado, e depois a mesa, as cadeiras, a cama, os armários para os quartos e a cozinha. Na verdade os novos proprietários só precisavam trazer as roupas, panelas e outros utensílios domésticos.

Como pagamento pela obra, muitas vezes eram dados terrenos, com isso meu avô teve áreas de terras em vários bairros do município, eu cheguei a conhecer na Enseada, no Centro, em Toque Toque Grande, em Boiçucanga e por aí vai.

As terras em Toque Toque Grande eram da praia até as vertentes, como era comum na época, e estas que eu vou falar agora foram desprezadas por parte dos herdeiros, pois na parte de baixo ficava a costeira e na parte de cima seguia por um local muito íngreme, que só passou a ter valor depois da construção da estrada, pois a SP-55, que liga o município à Bertioga, atravessou as nossas terras.

Meu pai e meu avô foram trabalhar nas obras da estrada, quando ela estava passando pela propriedade deles, pois era do interesse dos sebastianenses que essa estrada ficasse pronta, eles sabiam que haveria uma valorização para as terras.

Hoje a única herdeira de Sebastião Justo de Moura que tem terras lá sou eu, onde é o meu terreno havia um barracão onde era guardada a produção de banana, uma vez que ficava à beira da estrada.

No começo as bananas eram levadas por barcos que eram subsidiados pelo Estado, era uma maneira de trazer renda para os caiçaras que viviam na região. Porém com a construção da estrada as barcas pararam de fazer esse serviço e a produção passou a ser levada de caminhão, isso durou por pouco tempo, pois acabou sendo inviável, os custos não compensavam.

Para nós que somos caiçaras falar que é dono de uma área de terra com posse: ”...mansa, pacífica e ineterrupta há mais de 100 anos...” é motivo de orgulho, pois representa o respeito que as pessoas tinham pelo nome do meu avô. Afinal eles com tantas terras nunca precisaram invadir as terras de ninguém, ao contrário, meu avô deu muitos terrenos para pessoas que chegaram “de fora” e vieram trabalhar para ele.

Mas isso, que para nós é motivo de orgulho, acaba despertando a sanha de pessoas de má fé, que vêem justamente ali uma razão para invadir essas terras.

Acompanho isso há muitos anos, pois fui funcionária da Prefeitura de São Sebastião por 21 anos e atuo como jornalista há mais de 30 anos. Quantos casos eu pude acompanhar em que os caiçaras por ingenuidade acabavam não fazendo a documentação de posse, e eram vítimas de invasores.

Na maior parte dos casos os invasores justificam a invasão dizendo que foi um engano, mas o “engano” é sempre diminuindo a parte do caiçara, nunca é aumentando.

Em pleno 2022 esse tipo de coisa ainda acontece.


Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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