14/09/2025  05h48
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
09/09/2005 - 13h03
Leituras de férias
Pedro J. Bondaczuk
 

As máquinas, por mais sólidas e resistentes que sejam, precisam, periodicamente, ser desligadas e passar por manutenção. Caso contrário, tendem a apresentar defeitos, sofrer quedas de rendimento ou até ficar inutilizadas, com prejuízos incalculáveis para os donos. O mesmo se aplica, e por mais fortes motivos, às pessoas. Neste caso, a premência é maior, dada a ostensiva fragilidade humana.

As máquinas, a despeito do desgaste, não se cansam, não sentem fome, sede, frio ou calor. Não ficam doentes e nem sentem dor. Embora os robôs estejam cada vez mais parecidos com o homem, ainda não atingiram tamanho grau de sofisticação. Não têm sensibilidade e ou emoções. Não amam e nem odeiam e jamais se soube de um que sofresse de "dor de cotovelo".

Por mais que gostemos do que fazemos, depois de certo tempo de atividade contínua, é indispensável que façamos uma pausa. Afinal, o estresse - doença característica dos tempos atuais - (engraçado que na nossa infância nunca ouvimos queixas de nossos pais de que estivessem estressados, mesmo tendo em conta que o seu sacrifício era muito maior do que o que fazemos hoje) anda rondando os incautos, ou os desorganizados, ou os frágeis, ou sei lá o quê. Daí a importância das férias.

Essa parada anual não implica em completa inação (ou não deveria implicar). Não deve se transformar em absoluta inércia, uma espécie de "hibernação" humana. A pessoa que se afasta de suas atividades para descanso não pode (e nem deve) se limitar a comer, a beber e a dormir, acreditando, com isso, que esteja "economizando" energia. Isso não existe! Não é assim que o organismo humano funciona.

Recente pesquisa feita na Alemanha, e divulgada pelos jornais, comprova que há uma tendência à atrofia do cérebro, quando mantido inativo por certo período. O estudo concluiu que o quociente de inteligência (o tão propalado QI) sofre redução de até 20% durante as férias. Claro, quando o indivíduo não exercita o raciocínio. Em palavras mais claras: a pessoa fica "mais burra" quando pára de pensar. No meu caso, creio não estar exposto a esse risco (embora nunca se saiba). Costumo fazer extensa programação de leitura para essas ocasiões, teoricamente de ociosidade. Raramente viajo, quando faço essa pausa no meu trabalho jornalístico.

Estou mais uma vez de férias (desta vez meio que na marra, para tratar-me das seqüelas de um acidente que sofri em 8 de agosto passado) e, como faço todos os anos, em tais ocasiões, estabeleci cuidadosa e intensiva programação de leitura que, certamente, deve preservar, senão aumentar, meu QI (pelo menos assim espero). Embora fosse prudente, para evitar irritação, não deixei de ler jornais, revistas e nem de acompanhar o noticiário das CPIs e, por conseqüência da gravíssima crise política do País, pelo rádio e pela televisão. Só evitei de escrever a respeito. Afinal, férias são férias e ninguém é de ferro!

Dediquei-me, nos últimos dias, a ler crônicas e ensaios. Primeiro, li um livreto, destinado a estudantes de primeiro grau, com textos de quatro dos nossos mais hábeis cronistas: Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Carlos Drummond de Andrade. Os quatro desenvolvem temas comuns - cada qual com seu estilo e visão peculiar sobre o assunto proposto, numa unidade que parece proposital. Mas não é. As crônicas não foram escritas especificamente para esse livro, mas publicadas em outras obras dos respectivos autores.

A seguir, mergulhei de cabeça nas páginas de "Para Viver um Grande Amor", do sempre saudoso "poetinha" Vinícius de Moraes. Deliciei-me, evidentemente, com suas colocações originais e até líricas, não fora ele o grande poeta que foi. Ou é, pois permanece vivo, vivíssimo, em sua obra e no coração dos que o conheceram. Fiz, também, um "passeio" por Nova York, com Fernando Sabino, que registrou sua passagem pela "metrópole do mundo" em deliciosas crônicas, reunidas em seu livro "A Cidade Vazia".

Não menosprezando nenhum desses autores, no entanto, a leitura que mais me agradou, e da qual vou tirar grande proveito enquanto viver, foi da obra de um dos maiores humanistas deste século, homem de rara sensibilidade, ganhador da Medalha da Paz das Nações Unidas em 1986, "doutor honoris causa" de pelo menos cinco dezenas das maiores universidades espalhadas pelo mundo, detentor de títulos de cidadania de uma centena ou mais de cidades (desde julho de 1998 passou a ser também "cidadão campineiro", embora nossa imprensa, estranhamente, não tenha dado uma única linha a respeito), doutor Daisaku Ikeda.

Trata-se do presidente da Soka Gakkai Internacional, entidade budista, voltada para a criação de valores, com presença em 128 países e com milhões de membros espalhados por todos os continentes. O Brasil também conta com uma filial da organização, sediada no bairro da Liberdade, em São Paulo, com intensa e vigorosa atividade cultural. Seu livro "Crianças de Vidro e Outros Ensaios" é uma jóia, raro manual de bom senso (do qual os homens de hoje, em especial a elite política, são tão carentes), em linguagem simples, mas direta, vigorosa e eficaz. Sinto-me gratificado e, mais do que isso, privilegiado pela oportunidade de entrar em contato com essa mensagem lúcida, realista e repleta de sabedoria. Com leituras como esta, convenhamos, não há como sofrer redução de QI nas férias. Pelo contrário... creio estar dando importante salto de qualidade que, espero, venha a se refletir nos futuros textos que pretendo escrever.


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.