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Opinião
08/09/2005 - 09h11
Estado banqueiro
Rodrigo Constantino - MSM
 

O povo tem raiva dos banqueiros! A taxa de juros no Brasil é estratosférica mesmo, e tentar entender as causas é tarefa complexa, mesmo para economistas. Passa pelo tamanho do Estado, a dívida pública, a falta de confiança nas instituições, o risco e histórico de calote, a carga tributária, a proteção aos devedores, enfim, muitos fatores de difícil compreensão. Mas fácil condenar a figura do banqueiro, e ponto final. Mas essa fuga pela tangente gera alguns paradoxos. Os bodes expiatórios não servem, pois levam à conclusões contraditórias.

Por exemplo: o maior banqueiro de todos é o próprio governo! O Banco do Brasil, que já foi privado nos tempos de Mauá, mas tornou-se estatal na marra, é o maior banco do país. Tem mais de R$ 230 bilhões de ativos! Quando o presidente Lula mandou que o povo levantasse o traseiro para procurar bancos com taxas menores, ele ignorou que os próprios bancos estatais cobram taxas bem parecidas com a dos privados. Os dois maiores bancos estatais, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, correspondem a quase 40% do total de ativos dos 10 maiores bancos do país. Fica complicado condenar os banqueiros com esse dado em mãos.

Outro problema em concentrar a culpa em poucos banqueiros gananciosos é que os estrangeiros têm importante parcela do mercado também. O Santander, ABN AMRO e HSBC, juntos, correspondem a quase 20% do total de ativos dos 10 maiores bancos do país. Não é nada irrelevante! Agora fica a dúvida: se o problema dos juros elevados não é estrutural do país, será que esses banqueiros gringos ficam mais gananciosos quando atravessam as fronteiras? Afinal, tais bancos estão presentes no mundo inteiro, e na terra do Tio Sam, conhecida pela ganância e individualismo, a taxa de juros não chega a 4% por ano. Lá são centenas de bancos privados competindo. O problema dos altos juros não pode estar nos bancos, logicamente.

Mas claro que nada disso importa. O povo não quer explicações racionais, detalhadas. Não quer estudar, aprender. Não quer buscar respostas objetivas, verdadeiras, através de complexos mecanismos de causalidade. Não quer passar por esse esforço, para depois descobrir que é o próprio Estado o grande culpado. Preferem um bode expiatório fácil, uma explicação simplista, mesmo que absurda. Afinal, entender que o maior banqueiro é o próprio Estado, e que o seu tamanho hipertrofiado é uma das maiores causas dos elevados juros, faria com que certos sonhos fossem destruídos. Ficaria claro que não basta o governo ter vontade de baixar os juros, se não fizer profundas reformas estruturais, liberalizando o mercado. Ficaria evidente que a privatização dos bancos estatais é crucial. Ficaria óbvio que as receitas heterodoxas típicas da esquerda romântica, que acredita ser possível um sujeito levantar-se puxando o próprio suspensório, são totalmente infundadas a agravariam o problema. Essas verdades incomodam. Melhor culpar os banqueiros, com exceção do maior de todos, o próprio Estado.


Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista pela PUC-RJ, com MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalha no mercado financeiro desde 1997. É autor dos livros "Prisioneiros da Liberdade" e "Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT", ambos pela editora Soler.

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