Desde a colonização de nosso imenso país, produzir sempre foi a melhor via para o avanço econômico. Seja com a extração de bens naturais, produção da cana-de-açúcar, café, milho e soja, seja com produtos manufaturados e industrializados, tecnologia ou outros serviços. Nesse sentido, temos uma grande fronteira a ser desbravada. Ainda estamos acanhados, como espectadores passivos que pouco fazem para interferir no resultado da ópera. Essa realidade pode ser comprovada caminhando pelo interior do Brasil, nas regiões chamadas mais desenvolvidas, onde os grandes cinturões verdes substituem a paisagem natural e acabam por engolir também os sonhos dos pequenos agricultores e sociedades cooperativas que mal tiveram tempo para identificar os "usurpadores" de suas áreas de atuação e sobrevivência. Nessas regiões, quem comanda são novos "donos" da produção agrícola, milionários que mostram a satisfação em produzir milhões de grãos e vendê-los por milhões de reais, revelando uma realidade que nos força a convergir a uma outra avaliação. Latifúndios que outrora serviam de sustento a milhares de famílias ou a centenas de cooperativas de produtores, que beneficiavam um sem-número de trabalhadores, agora servem a poucos. Concentrou-se a produção. Onde havia falta de crédito para se plantar, hoje existem subsídios volumosos que trafegam em vias estreitas, até chegar às mãos de grandes conglomerados produtivos. Onde havia mãos, hoje se ouvem os potentes motores a diesel. A intuição deu lugar à tecnologia de última geração e, ao invés de esperar a chuva, hoje se irriga com máquinas de última geração. Tudo conspira a favor do setor agropecuário. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) mostram, inclusive, que em 2004 a produção agropecuária aumentou e o agronegócio foi responsável por 41,5% das exportações globais do país. Os números são crescentes. A produção é cada vez maior, mais intensa. Em contrapartida, a pirâmide de tal setor mostra que seu topo é ocupado cada vez por menos gente. As inúmeras cooperativas que produziam e serviam de canal desenvolvimento de trabalhadores rurais e suas famílias estão desaparecendo. Hoje, o que se vê são produtores enriquecendo às custas de largas linhas de financiamento agrícola, com juros subsidiados. Forma-se um círculo vicioso. Se há muita terra para produzir muito, a garantia que os banqueiros querem e esperam está mais visível do que a daquela pequena cooperativa que luta diuturnamente para sobreviver. O cooperativismo agrícola passou, assim, por significativas mudanças. Guardadas as exceções, as pequenas sociedades sofrem com o descaso e a falta de capacidade de se recuperar. Falta crédito, mas falta também a educação, a reciclagem, a re-adaptação do homem ao campo, a visão empreendedora. Pode-se pensar que os grandes vilões dessa derrocada do sistema são os novos-ricos do agribusiness. Não são eles, porém, os únicos responsáveis. Os "culpados" por esse quadro também são os dirigentes mal-preparados, administradores sem visão de negócio, os sócios-cooperados sem espírito de cooperação. É mais fácil arrendar as terras para um grande produtor do que empenhar-se em nelas produzir. Para alguns produtores que, mesmo com o revés do setor de produção rural cooperativista, ainda resistem a esse fenômeno e persistem no sistema, há muito o que fazer. O desafio não é só investir conseguindo créditos em larga escala e a juros subsidiados como recebem os grandes barões, mas também (e principalmente) educar o segmento. Afinal, o preparo dos corações e mentes dos sócios-cooperados é tão importante quanto o da terra para o plantio. Em solo não adubado não floresce a plantação. Em mentes vazias, desprovidas do conhecimento técnico e tecnológico e nos corações desprovidos do calor do espírito da cooperação, não pode também florescer o germe do desenvolvimento. Aos administradores de cooperativas cabe observar o que pensam seus sócio-cooperados no dia-a-dia, quais as expectativas de cada um. Isso faz parte da educação do sistema. Com a visão empreendedora, aliada à reavaliação de seu sistema produtivo, com a identificação de novos mercados, modelos, processos, tecnologia, créditos e seguros específicos para a produção, somados a essa educação e qualificação cooperativista, seu empreendimento e tantas outras sociedades conseguirão sobreviver ao desafio imposto pelos novos tempos. O cooperativismo tem condições, sim, de conviver com o "grande" agronegócio. E mais: continua a ser "um grande negócio". Nota do Editor: Daniel Augusto Maddalena é consultor especializado em cooperativismo.
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