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SEÇÃO
Crônicas
13/09/2005 - 19h08
Quatro anos depois
João Soares Neto - Agência Carta Maior
 

Faz hoje quatro anos. O século mal havia começado. Todos nós imaginávamos que o novo século e o novo milênio seriam de bem-aventuranças. O muro de Berlim tinha caído, já não existia a polarização que durou por toda a Guerra Fria, a briga milenar continuava na faixa de Gaza, o Afeganistão era dizimado, a África prosseguia a morrer de fome e de doenças endêmicas, a Colômbia convivia com o narcotráfico, a Iugoslávia ia desaparecendo, mas, apesar disso e muito mais, acreditávamos que era assim mesmo e a vida ia sendo tocada como cada um podia.

E o dia amanheceu. E o dia tinha sol em metade da Terra. As pessoas se encaminhavam para os seus trabalhos ou começavam as suas lidas. Bilhões de pessoas, pois somos perto de sete bi de todas as cores, raças, credos, idades, patrimônios, misérias, dores e sonhos. Todos em trânsito, mas o transe iria eclodir.

De repente, todos fomos atingidos, não porque estivéssemos lá ou cá, mas por estarmos. Víamos tudo e do jeito que ainda estava acontecendo. Parecia loucura e era. A tragédia não era uma farsa. Era o cruel do real, do que a mente atormentada gera, do sucesso da insensatez ou do que a fé distorcida provoca. O que fosse. Era a vingança ou o delírio. Estava lá. Era fogo querendo aprisionar olhares, eram mergulhos nos ares criando um mar de desencanto. E as pedras rolavam, como se fossem puxadas pela gravidade. E havia gravidade, não a lei da gravidade, mas a de instintos que plantaram cântaros de ódio e os espargiram com um esgar mortífero. E respirações pararam para sempre.

Atônitos, olhávamos uns para os outros, os meios de comunicação estavam a pleno, todos falando entre si, sem que uma língua comum existisse. Babel XXI. Éramos parvos a soletrar palavras desconexas e, disléxicos, mexíamos os braços sem saber onde colocar as mãos e os sentimentos.

Desespero era. Desilusão era. Perplexidade era. Medo era. Desafio era. E era uma Nova Era que chegava ao mundo, de forma tribal, sem limites e quiçá que não por muito. O dia custava a passar e nada do que se ouvia fazia sentido, embora todos os nossos sentidos estivessem alertas. E o pior é que não houve alerta, tudo foi de surpresa, não havia anunciação, chegou o dia de soslaio, como uma pedra que se joga no rio da humanidade e mata parte da fauna. Descobrimo-nos faunos e mergulhamos na busca dos homens que imaginávamos que fôssemos. A noite chegou. O dia terminou. Quatro anos passaram, outros dias como aquele pulularam e, neste mesmo dia de hoje, nada mais tem a cor do céu de antes. É o mesmo azul, o céu eterno, as orquídeas florescem, mas os pintores são outros, e a plástica que se cria não inspira mais a ilusão que os olhares ainda acreditavam possuir.

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