A República de Pernambuco acabou. A capitania hereditária de Duarte Coelho obteve o comando simultâneo de dois dos três poderes de Estado e desabou. Em poucas semanas morreu Miguel Arraes, que conseguiu sobreviver quase vinte anos ao sepultamento de suas idéias sob o Muro de Berlim, Lula virou anedota e Severino nome feio, daqueles de puxar briga. Um guri chama o outro de Severino na sala de aula e tem catiripapo na saída do colégio. Até bem pouco, criticar Lula era quase um passaporte para o descrédito. Dissesse ele o que dissesse, fizesse o que fizesse, resistia no juízo popular com a mesma tenacidade com que se recusou ao longo da vida aos testes dos boletins escolares. Lula era o melhor exemplo de que na política, em tempos de populismo, a ignorância tem futuro promissor. Educação é direito de todos, mas o chefe de Estado tem regalias superiores. Mesmo assim, só um partido como o PT poderia fazer Lula presidente da República. E fez. Farinha da mesma tapioca, Severino deputado federal já era uma demasia. Só o PT poderia fazer dele presidente da Câmara dos Deputados. E fez. Fez? Fez. É bom lembrar que foi o PT que viabilizou a vitória de Severino quando impôs a candidatura de Greenhalgh, contra a vontade expressa da maioria. O arrogante candidato oficial não tinha apoio sequer na própria bancada, que acabou tendo dois candidatos. Se o petista dissidente Virgílio Guimarães tivesse ido para o segundo turno seria vitorioso. Mas o PT errou o lance, Greenhalgh chegou na frente de Virgílio, foi para a disputa com Severino e fez menos votos no segundo turno do que no primeiro. De desonesto nem o PT acusava o pernambucano, mas de corporativo e ignorante, sim. E eu me perguntava: mas não foi o PT estuário dos mais rutilantes corporativismos nacionais? Não foi o PT que nos colocou sob a presidência de Lula? Quem é roto e quem é descosido nessa história? Pois bem. A base do governo, fomos descobrindo com o tempo, estava formada por muitos dos piores elementos dos demais partidos políticos do Congresso. Foram selecionados a dedo e buscados para integrá-la todos aqueles congressistas que o PT oposicionista lançava em rosto de seus adversários para exaltar a própria correção. E não foi diferente com Severino. Eleito num dia, xingado no outro, já no terceiro estava manobrando na trincheira do Planalto e indicando ministro com força suficiente para mandar Olívio Dutra de volta para Porto Alegre. É bom que a sociedade não esqueça de como as coisas aconteceram. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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