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Opinião
15/09/2005 - 08h07
A mídia amordaçada
Geraldo Lopes
 

Uma pergunta que não quer calar. Cadê os dez milhões de reais do dizimão apreendido pela Polícia Federal em Brasília? Num primeiro momento a mídia, ou melhor, uma parte da mídia destinou espaço até generoso sobre a bizarra apreensão da dinheirama conduzida pelo deputado e bispo da Igreja Universal João Batista Ramos da Silva. O dinheiro estava em sete malas, e na época, a própria Polícia Federal suspeitava de sonegação fiscal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A única conseqüência prática da apreensão foi o desligamento do deputado João Batista do Partido Liberal. E nada mais disso nem lhe foi perguntado.

O noticiário sobre as malas de dinheiro se manteve por mais ou menos uma semana, perdendo espaço a cada dia até desaparecer. Com a instalação das três CPIs, estrelas absolutas da mídia, e até prova em contrário fontes garantidas de Ibope, ninguém mais se preocupou com o dizimão, ninguém mais se interessou em saber se o Bispo João Batista dizia a verdade ou se a dinheirama seria levada para algum paraíso fiscal, ninguém mais cobrou resultados sobre a investigação da Polícia Federal, ninguém se preocupou em saber se a PF encaminhou os depoimentos ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quem caberia decidir se abriria ou não inquérito já que o principal envolvido conta com imunidade parlamentar.

O delegado David Servullo Campos, titular da Delegacia de Crimes Financeiros, disse estranhar que o deputado transportasse malas com dinheiro. Embora a legislação brasileira não proíba o transporte de dinheiro vivo, desde que seja em reais, o transportador tem a obrigação de esclarecer a origem e o destino do dinheiro e, pelo menos no início das investigações, os delegados envolvidos na apreensão não estavam convencidos de que, como alegou o deputado João Batista, a dinheirama das sete malas era produto da arrecadação de dízimos das centenas de unidades da Igreja Universal espalhadas pelo país. Durante a contagem do dinheiro alguns indícios levaram os policiais a desconfiarem de sua origem. O principal deles foi o pacote com mais de dois mil reais em notas de 50 novinhas e em série.

Indícios de irregularidades muito menos consistentes levam centenas de homens e mulheres para a cadeia. Mas no caso em pauta, trata-se de um cidadão que além da imunidade parlamentar, ostenta títulos muito mais importantes: o de bispo da Igreja Universal e de presidente de poderosa rede televisiva. Que a polícia arrefecesse diante de figura tão pomposa é até compreensível, o que não se pode compreender é a mordaça da mídia, a mesma mídia que em outro caso de apreensão de dinheiro quase a mesma época, o dos 100 mil dólares da cueca do cearense José Adalberto Vieira da Silva, apreendidos junto com mais 200 mil reais numa mala, fez um estardalhaço cujos reflexos ainda podem ser observados nos jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão que vez por outra voltam ao assunto.

Não há hipótese que me faça acreditar que o dinheiro da Universal amordaçou a mídia no caso da apreensão das sete malas com o dizimão. Mas como os próprios fiéis da igreja de João Batista costumam dizer, o sangue de Jesus tem poder. Com todo o respeito à liberdade religiosa prevista na Constituição e nada tendo contra nenhuma religião, embora por convicção própria não seja ligado a nenhuma, posso afirmar, como simples observador, que a Universal tem poder, e que talvez seja esse o poder que faz calar a mídia, a mesma mídia que não se cansa de cobrar soluções para o dinheiro na cueca do cearense e o andamento das CPIs instaladas no Congresso Nacional. Não creio na possibilidade de mídia amordaçada, mas não tenho dúvidas quanto à realidade da mídia inexplicavelmente desinteressada.


Nota do Editor: Geraldo Lopes é jornalista.

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