Existem várias campanhas nesse sentido: um dia sem tabaco, um dia sem álcool, um dia sem sedentarismo, e por aí vai. Gostaria de sugerir aos profissionais liberais, jornalistas, fiscais, policiais, funcionários públicos em geral e, principalmente a classe política, um dia, um único dia sem corrupção. A campanha teria que ser levada a sério. Desde o guarda da esquina que mete a mão em dez reais para não multar o motorista estacionado em local proibido, passando pelas diversas modalidades de fiscalização, sensibilizando policiais rodoviários, empresários, profissionais liberais e políticos em todos os níveis, do vereador de um município pequeno até os figurões do Congresso Nacional e, quiçá, o pessoal que gravita em torno do Palácio do Planalto.

Um mês sem corrupção, segundo alguns economistas, seria o suficiente para gerar fundos de tal ordem que o Brasil conseguiria pagar a dívida externa. A campanha proposta não chega a tanto. Um dia de corrupção zero por ano, desde que levada a sério, poderia gerar fundos, por exemplo, para tirar do caos o sistema de saúde pública com hospitais sucateados, falta de medicamentos, profunda carência de equipamentos e de pessoal qualificado, médico e paramédicos. Um dia de corrupção zero poderia gerar fundos para equipar melhor a polícia, ajustar os salários dos policiais, investir em esquemas de prevenção e acabar de vez com o fantasma da insegurança que se instalou no país, marcando presença mais forte nas grandes capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Porto Alegre e demais metrópoles. Um dia de corrupção zero deixaria a população mais tranqüila, menos estressada e feliz, muito mais feliz.

Atenção senhores publicitários, Duda Mendonça à parte, é claro. Vamos abraçar essa campanha. Atenção à mídia, a classe artística, esportista, empresários, povo em geral e os políticos em particular, principalmente os que cerraram fileira no lançamento da campanha Fome Zero. A palavra de ordem agora é Corrupção Zero. É muito possível que, se bem sucedida, a Corrupção Zero permita a máquina administrativa acertar as contas do INSS, pegar melhor os aposentados e pensionistas, tirar as crianças das ruas, construir escolas, desenvolver projetos sociais e desafogar as enxovias que guardam espectros humanos agrupados, uns por cima dos outros, a exemplo do que se observa nas celas da Polinter, no Rio de Janeiro e em quase todas as cadeias de outros Estados.

Um dia sem corrupção poderia, por exemplo, permitir à máquina pública uma administração sem paternalismos travestidos de projetos sociais como o cheque cidadão, vale gás ou o tudo a um real do casal Garotinho. Se vingar, a campanha Um dia sem Corrupção seria capaz de permitir investimentos dos setores público e privado, aumentando consideravelmente a oferta de emprego, poderia até reduzir os juros estratosféricos proporcionando o aumento do consumo, a melhoria na qualidade de vida da população e o resgate da dignidade há muito tempo perdida com o avassalador processo de exclusão.

Ilação a parte, não seria pedir muito: um dia, apenas um dia sem os anões do orçamento, sem Collor e PC farias, sem os fraudadores do INSS, sem os vampiros da saúde, sem os auditores e fiscais do propinoduto da Receita do Rio de Janeiro, sem os mensalinhos e mensalões, enfim, sem Roberto Jefferson, Delúbio Soares, Marcos Valério, José Dirceu, sem o juiz Nicolau dos Santos Neto. Sem José Genoíno, Severino Cavalcanti, os 18 deputados que sacaram na conta do valerioduto e sem Flávio e Paulo Salim Maluf.

Nota do Editor: Geraldo Lopes é jornalista.