"Qui sanctus est oret. Qui sapiens est doceat. Qui prudens est regat". (Provérbio latino)
Tinham razão os latinos. Quem for santo reze, quem for sábio ensine e quem for prudente governe. Aqui no Brasil não temos o hábito de levar em consideração os melhores preceitos e acabamos com Lula presidindo a República e Severino comandando a Câmara dos Deputados. Semanas atrás o Jornal Nacional noticiou que ambos haviam estado reunidos para ajustar a agenda de votações do Congresso. Isso é o que se chama reunião de alto nível. Podiam ter convidado o seu Creysson. Entendamo-nos em relação a este princípio: governar não é tarefa para santos nem para sábios, mas para pessoas prudentes. Certo? E entendamo-nos nesta aplicação do princípio: recusar encargos para os quais não se esteja preparado é manifestação de prudência. Certo, também? Tomás de Aquino, que era santo, sábio e prudente, advertia, ainda, para o fato de que a prudência é a virtude do realismo, do saber decidir bem, aqui e agora, com vistas ao futuro. E elucidava o sentido do vocábulo através de sua etimologia, explicando que a palavra prudentia deriva de porro uidens (ver longe). Convivemos, no Brasil, com um visível déficit dessa virtude pois poucos dentre os nossos homens públicos enxergam a ponta do próprio nariz. Primeiro um grande partido político indica e a sociedade elege presidente da República um cidadão que chega à meia idade tendo dado inesgotáveis demonstrações de não ser santo, nem sábio, nem prudente. Ou seja, deveria estar fazendo outras coisas noutro lugar. Depois, a maioria da Câmara dos Deputados confia o posto máximo da Casa a uma caricatura. Diante disso, quando Severino foi eleito, os petistas se indignaram: para ferirem nosso partido e o governo, diziam, cometeram uma loucura, entregaram a Câmara a um despreparado! E a oposição se defendia alegando que se o PT tivesse sido prudente (vejam bem a palavra) teria buscado um nome viável, em vez de insistir na inaceitável candidatura do radical e arrogante deputado Greenhalgh. Ora, ora. O PT de Lula chamando Severino de despreparado? Decida o leitor qual o roto e qual o descosido desse destampatório. Pois bem. Depois de passar oito meses, ao longo dos quais Severino prestou bons serviços ao Planalto, os que se empenharam em elegê-lo cuidam de derrubá-lo, ao passo que a base do governo, que tanto o execrou, faz corpo mole e dá claro sinais de que, se pudesse, não o afastaria dali por nada deste mundo. É assim, com toda esta imprudência e incoerência, que se faz política no Brasil. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
|