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Crônicas
25/09/2005 - 08h00
Que falta de educação!!!
Lula Miranda - Agência Carta Maior
 

Se você vai a um banco e fica pasmo com a incompetência e o despreparo do gerente que lhe atende para resolver questões/problemas dos mais simples e corriqueiros possíveis, isso é um sinal de falta de educação.

Se você vai ao médico e este lhe atende com uma rapidez impressionante, e lhe passa um monte de exames para fazer, alguns dos quais você desconfia não ter nada a ver com a enfermidade que lhe acomete (mas, afinal, o que fazer?, ele é o médico), e ainda, antes de lhe prescrever algum medicamento, faz uma demorada consulta a um livro grosso (na verdade, um catálogo) onde constam diversos medicamentos apropriados aos mais diversos tipos de doenças, isso é um sinal de falta de educação.

Se você começa a se incomodar, e a se assustar, com o número de prédios, pontes e viadutos, na cidade em que você mora ou pelo país afora, que começam a ruir ou apresentar sérias falhas de estrutura, isso também é um sinal evidente, e do mais alto risco e gravidade, de falta de educação.

Se você começa a se incomodar com o "tatibitate" e/ou os "grunhidos" que os mais jovens "falam" hoje em dia; se você começa a se estarrecer com os programas para "descerebrados" que passam diariamente na programação da MTV; ou se você acha "estranho" ou "inacreditável" quando ouve o depoimento de um jovem, que não consegue articular sequer uma frase inteira e inteligível, onde ele diz candidamente, e com o maior "orgulho", nunca ter lido um livro (um só livro) em toda sua vida, isso, não tenha dúvida, também é sinal de falta de educação.

Se você começa a ver nos depoimentos às CPMIs, pela TV, ou mesmo através dos jornais e revistas, empresários, dirigentes partidários e parlamentares "toscos", "simplórios", e então você interroga a si mesmo "como é que um sujeito desses conseguiu chegar até esse cargo/posição" ou "como é que um sujeito como esses conseguiu eleger-se?", isso também, saiba você, é fruto de uma tremenda falta de educação.

Se você começa a ver, quase sempre pela TV, dezenas, centenas, milhares de jovens, nos morros da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, ou nas favelas em todas as grandes cidades brasileiras, portando armas de grosso calibre, como fuzis e pistolas automáticas, e entorpecendo-se com cocaína, cola de sapateiro ou esmalte, fumando maconha e/ou rebolando ao som de um funk; ou quando você começa a ver, também na TV, seguidas, reiteradas vezes, notícias de rebeliões em presídios ou unidades da Febem superlotados, não, não é à toa que essas instituições estão superlotadas, isso também é fruto da mais pura falta de educação.

Se você está, como eu, a cada dia que passa (e isso é o mínimo que se poderia esperar de um cidadão respeitado e respeitável como você) mais e mais incomodado com os moleques que perambulam/vadiam descalços por aí, que deveriam estar na escola, mas não estão, estão nas ruas tirando a minha e a sua paz, e lhe/nos incomodando pedindo algum trocado ou vendendo balas e bugigangas nos faróis, ou mesmo insistindo em limpar o pára-brisa translúcido de seu/nosso carro último modelo com aquela água supostamente suja, pútrida (como tudo que ela traduz), de origem desconhecida, e com aquela flanela suja de areia que arranha o vidro do seu/nosso translúcido pára-brisa, pode incomodar-se mesmo, é legítimo, pois isso é mais um caso de falta de educação.

Ou ainda se você está perplexo com o mal cheiroso "caldo de cultura" que escorre tal qual uma espécie de chorume das entranhas desse modelo de sociedade que estamos construindo e legando aos nossos filhos onde o lance é "levar vantagem em tudo, certo", onde "o que importa é se dar bem", onde "ser honesto é ser otário" e onde ainda "os fins justificam os meios", ah, meu caro, não tenha dúvida, isso é um sinal eloqüente de uma grande falta de educação.

E se, em meio a isso tudo, aparece um ou outro governador, candidato à Presidência da República ou não, em cujo Estado a Educação é um verdadeiro caos e beira a indigência, em que a Secretaria da Educação está entregue a uma espécie de "animador de auditório", e esse mesmo governador veta um certo dispositivo legal que iria propiciar um pequeno aumento nas verbas destinadas à educação, isso aí é, sem dúvida, fruto do descaso que nos mantém subjugados a essa perversa e deletéria falta de educação.

Ou, por fim, se nesse país em que você vive, a democracia não é assim tão representativa, pois a população é constituída, em sua maioria, por analfabetos e iletrados (e é assim mantida por motivos, sabe-se, estratégicos), por pobres não só em suas condições materiais, mas também os chamados "pobres de espírito", homens ocos, homens "sem alma" (desgraçadamente homens assim estão em todas as classes sociais) e, nesse contexto, nesse terreno (in)fértil, os jornais, as revistas e as TVs - esse último veículo com seus programas jornalísticos, mas, principalmente, com seus programas de auditório - manipulam corações e mentes, isso tudo, não tenha dúvidas, é fruto da mais pura falta de educação.

Ah, como eu gostaria que em meu país deixassem de existir esses homens "ocos", esses homens "sem alma" - alguns deles ocupam, inclusive, como vimos aqui, cargos públicos. Como eu gostaria que "falta de educação" fosse apenas uma expressão da língua. E que carregasse em si um único significado - que possibilitasse uma única leitura. Que fosse apenas uma expressão compreendida por todos, e, como sugerido no título dessa crônica e, por fim, revelado agora em seu final, fruto de um mero equívoco semântico. Que pudesse ser unicamente traduzida, para todo o sempre, e em todos os dicionários e culturas, apenas como falta de modos e boas maneiras.

Que falta de educação, cidadão!

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