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Crônicas
25/09/2005 - 12h32
Foi-se um mártir
 
 

E o sistema democrático nacional acabou perdendo um de seus pilares pernambucanos. Foi-se Severino à foice. O Severino que diz que ficou mais pobre com a política. Mas, no contraponto, o Brasil ficou mais rico com sua renúncia ao direito de pedir emprego para a família em linha direta com Lula.

Severino mostrou que é humilde. Enquanto Lula diz que é vítima das elites, Severino diz que é apenas vítima das elitizinhas que não querem largar o osso. Coisinha de nada, mas com muito mais poder de fogo, viu-se, mesmo sabendo que tem deputados que adoram uma elitizona.

Enquanto o zé mané fica gramando na fila do INSS para conseguir sua aposentadoria que pode até virar pensão para a dona zefa, se estourar uma greve entre o pedido e a concessão, o Severino vai ter de se contentar com uma aposentadoria de deputado estadual porque a de federal ele já sacou tudo. "Coisa de 7 ou 8 mil reais", disse, para gastar lá em João Alfredo (PE).

Severino, quando era jovem, vendia jóias para lojas e as chamadas "caixinhas" (aquelas barraquinhas que vendem imagens e quinquilharias para romeiros em Aparecida). Parece que foi lá que ele começou a acertar a vida de comerciante, mas a Santa foi mais ligeira e não quis que ele acertasse também a vida de político e providenciou imediatamente uma derrota para sua candidatura a vereador. Hoje, desafiamos qualquer ateu a provar que Nossa Senhora de Aparecida não existe. E assim, devidamente protegida, atualmente Aparecida curte o segundo mandato de seu prefeito que atende pelo sugestivo apelido de Zé Louquinho, porque o eleitor aparecidense decidiu que é melhor ser louco do que ser Severino.

Mas o mais marcante da era Severino na Câmara Federal, foi o seu discurso. Que maravilha!, diria o Tony Balada, o Amaury Júnior do Casseta e Planeta. Pois o sertanejo, perseguido pelas elitizinhas que não querem largar o osso e que estudou tanto quanto o Lula, produziu um discurso maravilhoso, que, no final continha a ameaça-bumerangue, ou seja a promessa de voltar "aos braços do povo".

Mas antes de subir ao cadafalso, Severino, humilde como sempre, fez uma boquinha que é para não ter indigestão à tarde na hora de discursar e, despedir-se de seu clero. Apenas 25 pessoas em "sua" residência oficial dividiram com ele a última e frugal refeição: buchada de bode, tambaqui do Acre e carneiro assado. Além desses pratos lights, em seu discurso, Severino disse que, como sertanejo, provou também "a inclemência implacável da paisagem e da desigualdade social que segrega nossa humanidade", mas só não explicou se foi no café da manhã ou no jantar do dia anterior ao nobre gesto de largar o osso.

De qualquer forma, foi impagável para a democracia brasileira a quarta-feira nobre. Só o quebra-pau na CPI dos Correios mostrou que o aperitivo já anunciava que o país ia mudar, com um discurso sincero no meio e outro quebra-pau de sobremesa, com estudantes devidamente espancados pelos cães de guerra da Câmara, só que com terno preto e gravata. Assim, a estudantada apanhou porque em vez de assistir aulas estava vendo ao vivo o que antes, só viam pela descarga da privada de sua casa, ou seja, água saindo pelo ladrão.

E falando em água, Severino disse que "arrastou na correnteza" o patrimônio da mulher, Catharina Amélia, o que prova que o amor, além de cego, surdo e mudo, também é burro. Sem contar que o Amélia de dona Catharina é adjetivo para Severino e tem mais é que descarregar o dote em quem foi eleito "para mudar uma Casa cheia de donos". E falando em dono, depois que mandou-se embora da Câmara, Severino não voltou para a "sua" casa (aquele casão chique com mordomo de gravata borboleta abrindo e fechando a porta que aparecia todo dia na televisão) e sim para o "seu" apartamento funcional que ocupava antes. Das duas, uma: ou Severino era dois (um contra e outro a favor de Lula) ou deixou o apartamento para o filho que morreu em 2002, o Severino Júnior que, de tão traquinas, mesmo depois de morto, ainda dava dor de cabeça para o pai, pegando cheque com o Buani. Filhos, filhos, melhor não tê-los e se tê-los, como morrê-los para sabê-los revivê-los na hora certa.

Agora, Severino vai ser julgado pela primeira instância, que é uma espécie de baixo clero do Poder Judiciário. Para quem quer voltar pelos braços do povo nada como sentar no banquinho na frente de um jovem juiz idealista, desses que ajudar a mover a roda da justiça, com a mão mais pesada (com políticos malandros) que a daquele segurança que aplicou uma gravata no estudante que gritou: "Vai, Severino".

Ou teria sido: "Ai, Severino!"? Afinal, o discurso doeu.


Nota do Editor: Eloisa Nascimento é jornalista e diretora do "Diário de Jacareí" SP.

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