"Estamos resolvidos a tudo o que é possível: astúcias, artifícios, métodos ilegais, calar, dissimular etc." - Lênin
Conforme o artigo "PT e clandestinidade", ficou explícito que a estratégia posta em prática ao longo dos anos por lideranças do PT, para fins de conquista e manutenção do poder, reeditava em sua totalidade o esquema de atuação clandestina (criminosa) articulado por Lênin para a derrubada do Governo Provisório da Rússia e a conseqüente imposição do virulento Império Soviético. Tal como o Partido Bolchevique, o PT de Lula e Zé Dirceu, na busca do poder, também se impôs no cenário nacional acionando práticas políticas "legais" e "ilegais", articuladas conforme as "circunstâncias históricas", ambas, nos dois casos, abertas a manejos delituosos para a construção de uma "sociedade justa e solidária". Na busca de tal sociedade, o controle partidário do PT obedeceu à cadência marcial do "centralismo democrático", o rígido esquema de comando acionado de cima para baixo (embora se proclame o inverso) por "núcleo duro" de profissionais, nos moldes traçados pelo engenho ditatorial do Camarada Lênin. Como se sabe, o PT já nasceu no espaço nacional sob o signo da ambigüidade ética, política e estrutural. Na sua origem, de sindicato delimitado aos restritos interesses de metalúrgicos do ABC, ora em desacordo ora em harmonia com as prerrogativas institucionais dos tempos de exceção, ele passou, depois da ascensão do companheiro Lula, à "partido de classe", com a crescente afluência de ecologistas, terroristas, trotskistas etc., com destaque para intelectuais "orgânicos" e religiosos marxistas, mentores de corporações e eclesiais de base, todos agindo e tendo por objetivo primeiro à arregimentação de ampla massa de trabalhadores urbanos e do campo para a materialização da velha "utopia socialista". De início, como peças "prioritárias de campanha", já emolduradas na sua fase de organização pela fraseologia insidiosa do marketing (tipo "oPTei" e congêneres), o PT definiu como "três as ações para um mesmo esforço conjunto", que passariam a mobilizar a vontade da militância, a saber: as refregas "pela liberdade política, pela liberdade sindical e pela reforma agrária sob o controle dos trabalhadores". Na ordem prática das coisas, no entanto, para passar à "ação transformadora" e chegar ao governo, a mera reunião de "intelectuais orgânicos" e "religiosos marxistas" não seria suficiente, visto que a maioria deles agia circunscrita aos limites do proselitismo ideológico. No exame cru da realidade, se fazia necessária uma estratégia de atuação bem mais contundente, em que a predominância da ação clandestina ocorresse à margem dos movimentos contestatórios permitidos por lei. Neste nível de entendimento pode-se dizer que a "profissionalizada" presença de Zé Dirceu, amparada nos métodos soviéticos assimilados em Cuba, foi decisiva para a escalada do PT até o Palácio do Planalto, com todos os riscos que a ação clandestina enfrenta. Só para ressaltar a pertinácia do agora problematizado mentor, basta assinalar que ele foi dos poucos de sua envergadura a renunciar a condição de membro do Diretório Nacional do PT, preferindo ingressar, estrategicamente, num simples diretório zonal do partido, onde se fez logo tesoureiro, passando a integrar, em seguida, numa escala quase didática para o aprendizado dos fins pretendidos, os quadros funcionais da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, inicialmente como datilógrafo, depois como auxiliar administrativo e finalmente como organizador de arquivos. Sabe-se hoje que na condição de Secretário de Formação Política e em dois mandatos na Presidência Nacional do PT, o ex-chefe da Casa Civil, segundo os próprios membros do partido, depois de exauridas as infindáveis discussões e os clássicos debates convencionais, promoveu a profissionalização de grupos ("tendências" e "articulações") dirigentes tendo como objetivo básico à progressiva gerência financeira e o controle político da organização. Como no velho rondó totalitário, o partido de classe "identificava-se" com a executiva do partido, e a executiva do partido, por sua vez, com o "líder carismático" Luiz Inácio, que, ao chegar no Planalto, transformou-se em "homem de Estado" para deixar o comando do governo delituoso nas mãos de Zé Dirceu. À época, para instituir "uma alternativa de poder aos partidos da direita", o então presidente Dirceu empenhou-se com mão de ferro na organização nacional do PT, ajudando ampliar os quadros partidários e, com eles, a concorrer às eleições e conquistar cargos legislativos e executivos, sempre coerente com as práticas propostas por Lênin. De fato, o ex-guerrilheiro, com seus métodos de expansão e a partir de alianças hoje consideradas espúrias, não só tornou majoritária (em russo, "bolchevique") a presença do partido no parlamento, como, de forma pragmática, foi peça fundamental na condução de Lula à Presidência. Resumo da ópera: com a conquista de postos executivos e legislativos veio a descoberta, já em 1982, do "quanto custava uma disputa eleitoral" e a conseqüente explosão de denúncias dos escândalos nas prefeituras de Campinas e São José dos Campos ("Caso Paulo de Tarso Venceslau", desvio de US$ 16 milhões), de São Paulo ("Caso Lubeca", propina de US$ 200 mil para campanha presidencial de 1989), da Loterj do Rio Janeiro ("Caso Waldomiro", extorsão de R$ 100 mil para campanhas de governador do Rio e Brasília), de Santo André ("Caso Celso Daniel", prefeito assassinado em 2002, ligado a arrecadação de propina para fundo de campanha presidencial) e, coroando tudo, a vertiginosa armação do "Valerioduto" - com direito a transporte de dinheiro sujo em malas e cuecas - exposto por Roberto Jefferson, que apodreceu a vida pública nacional - um caso, verdade seja dita, de rara incompetência partindo de uma "liderança" considerada até então, para além de arrogante, imbatível. Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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