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SEÇÃO
Crônicas
27/09/2005 - 17h10
Chamem o John Wayne!
Artur de Carvalho - Agência Carta Maior
 

Primeiro, a vida parecia um filme de faroeste. A gente, só de dar uma olhada na cara dos fulanos, já sabia se eles eram bandidos ou mocinhos. Os bandidos, carrancudos, com uma baita cicatriz do canto do olho até a ponta do queixo. Vestidos inteiramente de preto, a arma preta, a camisa preta, o sobretudo preto. Até o cavalo era preto. Numa pequena variante, eles podiam até ter uns detalhes em vermelho, o fundo dos olhos, um lenço, mas como nossas TV’s eram em preto-e-branco, não importava muito. Já, o mocinho, chegava até a doer nos olhos. Ele era loiro, alto, simpático, e absolutamente branco. O fundo dos olhos imaculados. Os dentes. A roupa. Tudo. O cinturão e o revólver prateados brilhavam ao sol, e a crina branca do cavalo esvoaçava ao vento. Parecia que a gente até via uma espécie de aura luminosa em torno dele. Então, isso facilitava as coisas. A gente já sabia por quem tinha que torcer desde o começo do filme e não precisava ficar prestando muita atenção no enredo. Mocinho era mocinho. Bandido era bandido. E pronto.

Depois de um tempo, as coisas começaram a se complicar um pouco. A vida começou a se parecer com esses filmes de arte europeus. Começaram a surgir aqueles personagens misteriosos, que a gente só ia descobrir lá pelo meio do filme que eles eram assassinos implacáveis. Mas aí, já não adiantava mais, porque a gente já estava simpatizando por eles. Eram pessoas sofridas, amarguradas, quase sempre com algum trauma em seu passado. A morte da família num assalto, um amigo assassinado a sangue frio por uma turma de ricaços, coisas assim. Então, a gente já não sabia direito por quem torcer. Tinha hora que parecia que nosso personagem misterioso tinha razão, que a vingança era a coisa certa a se fazer, que o mundo era um lugar cruel e corrupto, mas tinha hora que a gente via que os outros também deviam ter lá as suas razões para serem do jeito que eram, os ricaços eram pobres coitados alienados pelo sistema e não tinham culpa nenhuma de terem nascido do jeito que nasceram, e os assassinos eram assassinos por terem nascido num bairro negro de onde não podiam esperar mais nada da vida além da criminalidade. Ninguém era bandido, ninguém era mocinho. Eram todos seres humanos.

Tudo bem. Até dá para suportar uma vida sem bandidos e sem mocinhos. Acho que é até bastante saudável. Mas eu nunca imaginei que, um dia, a vida poderia transformar-se nisso que está aí. Parece que todo mundo é bandido, puxa vida...

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