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Crônicas
29/09/2005 - 14h24
O elogio do casamento
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

Tempos atrás, organizei uma antologia chamada A língua de três pontas, composta de crônicas e citações sobre algo que todo mundo cultiva em maior ou menor grau: a arte de falar mal. Dividi o livro segundo os assuntos que mais habitualmente servem de alvo neste esporte: a política, a economia, a mídia. Não foi difícil encontrar citações, mas, quando cheguei ao tema do casamento, elas se revelaram particularmente abundantes. Deus, como se fala mal do casamento. E se fala mal há muito tempo. Dizia o poeta romano Ovídio: "O principal dote que os consortes trazem para o casamento é a vontade de brigar". E o sábio Montaigne acrescentou, no século 16: "Em relação ao casamento, as pessoas são como os pássaros em relação às gaiolas: os que estão fora querem entrar, os que estão dentro querem sair". "Depois de quinze anos de casamento, tudo já foi dito", acrescentou Molière. Jonathan Swift, aquele das Viagens de Guliver, faz uma especulação metafísica: "Não sabemos o que acontece quando as pessoas vão para o Céu. Só sabemos que não se casam". E olhem só o que dizia o historiador Hyppolite Taine sobre a cronologia do casamento: "Durante três semanas, mútua observação; durante três meses, muito amor; durante três anos, muitas brigas; e, durante 30 anos, muita resignação". O poeta Lorde Byron fez uma comparação gustativa: "O casamento é como o vinho, que com o tempo se transforma em vinagre: uma bebida celestial torna-se um tempero doméstico". E o também poeta Alexander Pope: "No namoro, sonha-se. Na cama de casal, acorda-se". Em Sitting on a fence, dizem Mick Jagger e Keith Richards: "Todos os meus colegas de escola cresceram e se ajeitaram / hipotecando suas vidas. / Casaram porque não havia outra coisa a fazer".

A verdade, porém, é que as pessoas continuam casando, ou, pelo menos, vivendo juntas por longos períodos. Será isto o triunfo da esperança sobre a experiência, como querem alguns? Pode ser. É verdade que existem fatores culturais importantes: em todos os povos, o casamento tem uma longa tradição. No bairro do Bom Fim, onde nasci e criei-me, as pessoas sistematicamente se casavam - e nunca se separavam, mesmo que não se dessem bem. Em primeiro lugar, porque não tinham dinheiro para a separação, para manter duas casas. Depois, por causa dos filhos. Casamento, na maioria das vezes, significa família, e a família é a rede de segurança que muitas vezes ajuda a manter e sustentar o casamento.

Mas filhos e compromisso assumido não devem ser os únicos esteios do casamento. O que temos aí, fundamentalmente, é a relação entre duas pessoas. É um processo de mútua descoberta, que se vai fazendo ao longo dos anos e que, quando dá certo, é um triunfo: o triunfo da profundidade sobre a superfície. E isto se traduz não apenas no ajustamento sexual, mas também em companheirismo. Um bom marido é, antes de tudo, um bom companheiro, uma boa mulher é, antes de tudo, uma boa companheira. A vida é difícil, os seres humanos são frágeis. Precisam contar uns com os outros, e isto começa em casa. Quando vejo um casal idoso de mãos dadas, sempre me comovo. A mão na mão é o símbolo do companheirismo. E é um retrato da esperança.

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