Mãe do impossível, a missão da arte é ressuscitar o inconcebível. Gostaria de chamar a atenção para o show imperdível da Avril Lavinha, neste mês, na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil (pelo menos, foi isso que vi no anúncio da Gazeta do Povo). Além das músicas de altíssima qualidade, verdadeiras pérolas da arte pós-moderna, há outros motivos para não perder um evento como este. A Avril é uma das principais batalhadoras para a preservação do papagaio verde, da arara azul, do cardeal vermelho e do boto cor de rosa, além de ser ídolo da minha sobrinha de 14 anos. Aliás, ela está focada em tudo que se refere ao nosso país. Lavinha defende outras causas dignas de louvor e aplauso, como ações anti-mensalão nas câmaras municipais do Nordeste e a prisão imediata dos corruptos do Rio e do Acre cujas ações resultem na morte lenta das crianças em idade escolar. Como vocês podem ver, não é por acaso que Avril tem o apoio do nosso Ministério da Cultura. As letras de suas músicas falam de justiça social, liberdade, ecologia, amor ao próximo, luta em favor dos países endividados e, principalmente, protestos contra a incapacidade do Flamengo em sair da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Toda a verba do espetáculo será revertida em benefício das crianças que morrem de fome sob os viadutos que o generoso Maulo Paluf construiu em São Paulo e agora está injustamente engaiolado por ter roubado somente 1% do orçamento da capital, pôxa! Insisto sobre a importância deste show porque define bem as prioridades do Ministério, que aposta em artistas realmente interessados no progresso e na redistribuição de renda da nossa nação, defendendo sempre aqueles que estão iniciando na carreira e ainda não tiveram oportunidade de expor-se à mídia nacional e estrangeira. Poetas iniciantes, desenhistas, pintores, escultores, chargistas, cronistas, contistas, romancistas, atores, diretores, roteiristas, todos, reafirmo, todos estão tendo a oportunidade que merecem, e a Avril (a nossa Avril!) é o maior exemplo disso. Houve muita polêmica sobre a Lei de Incentivo, porém, como todos podem comprovar, as verbas estão sendo muito bem aplicadas e o Brasil obteve um crescimento exponencial no setor artístico-cultural nos últimos sete ou oito anos, com repercussões inclusive na saúde da população. Na minha cidade, exemplificando, todos os jovens que sabem falar tupinambá pararam de fumar depois que passou por aqui o "Maria Fumaça", uma espécie de teatro mambembe com um roteiro antitabaco patrocinado pela Souza Gruz, com o selo do Ministério. O dinheiro da Lei sempre cai nas mãos daqueles que batalham para construir uma consciência cultural tupiniquim. Os livros publicados através da Lei, por exemplo, têm todos excelentes conteúdos. Nenhum dinheiro é desperdiçado com obras de acabamento de luxo, dimensões de 32 x 22 cm, papel couchê brilhante com 240 g de gramatura, capa dura e costura, e as autoras nunca são "senhoras entediadas com a vida esposas de grandes empresários que têm contato com outros mega-empresários que possuem cacife para patrocinar a obra e depois recuperar todo o investimento na hora de recolher o imposto de forma que esse dinheiro nunca venha a ser revertido em educação e saúde para o nosso povo", como bem diz a promoter Pâmela Drão, filha do desembargador Burlando Loso e especialista na formatação dos formulários da Lei. Talvez pela influência dessa nova corrente cultural promovida pela Lei, como os telespectadores podem confirmar, programas como o do Xaustão e do Xuxu Liberado passaram a direcionar suas programações para o que se produz de melhor no Brasil, abrindo espaço aos verdadeiros talentos e dando uma trégua para aquelas entrevistas quilométricas com Leão Nardo, José de Camargo e Sandra & Junho. Obras teatrais de altíssimo custo, filmes a que ninguém assiste, CDs que ninguém escuta, livros que ninguém lê, exposições que ninguém vê, tudo que você possa imaginar de anti-cultural (nada de contra-cultural), não está sendo produzido através da Lei da Burguesia Cultural, e o maior exemplo é o show da Avril Lavinha, coitadinha. Nasceu ali na favela do Capanema, próximo ao rio Belém. Nunca teve uma oportunidade, e tudo que conseguiu foi com suas próprias mãos, até ser notada, através do satélite da CIA, pelo presidente Bush na época em que ele começou a salvar o mundo dos nazistas, dos soviéticos e dos árabes e posteriormente dos latino-americanos para salvar também a Amazônia e nossas ricas minas de petróleo, alumínio e água, mas agora que Lavinha chegou lá, tornou-se um exemplo para o mundo, desconcentrando a renda ao distribuir todos os seus bônus para outras pessoas que, como ela, tiveram de comer o pão que o Fernando Trambique amassou. Pode parecer uma heresia de minha parte, mas a verdade tem de ser dita, como bem afirmava o ex-deputado e presidente americano Jefferson, aquele que expôs, já em 4 de julho de 1774, toda a verdade sobre o mensalão e as traquinagens de Mr. Postman e em troca disso recebeu mais alguns milhões patrocinados pelo Fernando Trambique Ferroso & Cia Ltda. Segundo ele, o globo conspira contra a nação, e a mulher do globo também.
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