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Opinião
06/10/2005 - 08h03
Mensalinho, mensalão, aldosalão
Maria Lucia Victor Barbosa - Parlata
 

258 neopicaretas, para usar palavreado similar ao do presidente Luiz Inácio, elegeram o comunista Aldo Rebelo (PC do B - SP) presidente da Câmara dos Deputados a poder de muito capital neles investido pelo governo. José Thomaz Nonô (PFL-AL), que empatou com Rebelo no primeiro turno, fez 243 votos, e os 15 votos a mais levaram ao delírio principalmente petistas temerosos de serem cassados. De novo houve negociação de votos, desta vez pela fabulosa quantia de R$ 1,515 bilhões, mais promessas de cargos.

Quanto ao presidente Luiz Inácio, que recentemente ao receber campeões de Judô disse que ia ficar em cima do tapume (o certo seria tatame) para lutar, deve estar ainda comemorando a vitória. Afinal, foi ele em pessoa que operou o Aldosalão, um recorde muito acima de mensalinhos e mensalões.

Sua Excelência, que em entrevista em Paris justificou o caixa 2 "porque todo mundo muito tem"; que é a favor de perdoar o deputado petista, Professor Luizinho, porque este só recebeu R$ 20 mil de Marcos Valério; que considerou R$ 40 mil troco quando uma empresária de Santo André se queixou que tinha que dar mensalmente essa quantia a Prefeitura para abastecer o caixa 2 do PT; deve realmente estar orgulhoso da compra dos 258 neopicaretas. Afinal, não foi por nenhuma "peteca" que eles, como diria o personagem do Coronel e o Lobisomem, "curvaram o espinhaço subalternista" diante do governo.

Ressalve-se, contudo, que o poder de ouro de sua excelência é originado dos pesados impostos pagos pelos contribuintes, entre os quais se incluem os quase 53 milhões de eleitores que depositaram sua confiança no humilde operário que vinha para mudar, para acabar com a corrupção, para mostrar como a esquerda detém o monopólio da ética.

Só tem um problema para os que venderam seu voto: o PT e seu presidente da República têm se notabilizado em vender mercadoria e não entregar. Fiquem atentos, portanto, os 258 neopicaretas movidos a mesalinhos, mensalões e agora a aldosalão.

Aldo Rebelo, que como deputado se distinguiu com o relevante Projeto de Lei 2772/2003, que instituiu 31 de outubro como o "Dia Nacional do Saci Pererê", tem perfil que se encaixa às mil maravilhas aos desígnios de domínio do Executivo. Direi até que ele é muito melhor do que quaisquer petistas já que esses, sendo autofágicos, acabam mais atrapalhando do que ajudando. Calado, feições inexpressivas, Rebelo é o típico comunista que se anula em nome do todo. Isso ele demonstrou de sobra quando foi usado pelo então todo-poderoso José Dirceu, que manobrava à sombra e mandava para frente de batalha o aparente coordenador político do governo. Quando as manobras fracassavam, e isso aconteceu várias vezes, a culpa era do Aldo. E durante a fritura de meses, o disciplinado camarada se submeteu sem queixas às labaredas da fogueira da humilhação.

Agora o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, testemunha de defesa de José Dirceu, apesar de ser tão sério se permitiu uma piada: disse ser independente do governo. Entretanto, ele está pronto para continuar a trajetória de serviços à causa. Na verdade, já trouxe esperanças a Dirceus e Janenes, a Luizinhos e João Paulos. Desse modo, não será surpresa se das longas CPIs restar como cassado somente Roberto Jefferson. Os demais seriam inocentados. Apenas no caso do deputado José Dirceu, que se diz o mais inocente de todos, permanece um mistério: se ele é tão puro quanto uma criancinha, por que será que saiu chispando quando Roberto Jefferson desferiu aquele "saí daí Zé, para não complicar o presidente?"

Ninguém, contudo, deve estar mais feliz do que o presidente da República. A nuvem negra do impeachment desapareceu. O camarada Aldo lá está como um escudo para sustar qualquer investida de algum atrevido.

A apertada vitória, que elevou Aldo Rebelo à condição de terceiro homem mais importante da República, pois na falta do presidente e do vice-presidente é ele que assume o comando da Nação, faz pensar em como nossa democracia está se esvaindo sob o governo petista. Nesse sentido, os 258 neopicaretas são emblemáticos na medida em que, com sua peculiar ganância e postura aética, não se importaram nem um pouco em entregar a chave da porta do Legislativo ao Executivo. Como no Judiciário um outro presidente segura as pontas do governo, a pergunta a se fazer é a seguinte: já estamos vivendo sob uma ditadura disfarçada, versão adaptada e mais branda do modelo de Hugo Chávez que "fez uma Constituição e um referendo a seu favor", como bem afirmou em discurso o presidente Luiz Inácio ao elogiar de forma contraditória o companheiro como grande democrata? A resposta deve ser dada pela outra metade da Câmara.


Nota do Editor: Maria Lucia Victor Barbosa é Graduada em Sociologia e Política e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Ciência Política pela UnB. É professora da Universidade Estadual de Londrina/PR. Articulista de vários jornais e sites brasileiros. É membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Londrina e premiada na área acadêmica com trabalhos como "Breve Ensaio sobre o Poder" e "A Favor de Nicolau Maquiavel Florentino". Criadora do Departamento de Desenvolvimento Social em sua passagem pela Companhia de Habitação de Londrina. É autora de obras como "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto: A Ética da Malandragem" e "América Latina: Em Busca do Paraíso Perdido".

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