À Redação,

Como leitora assídua da revista eletrônica UbaWeb devida à transparência e objetividade dos colunistas além da real existência de liberdade de expressão no site, venho por meio desta manifestar minha indignação ao desrespeito por parte da assessoria de imprensa da prefeitura local, a qual redigiu o artigo "FUNDART REALIZA EXPOSIÇÃO DE ARTESANATO NO JARDIM", publicada no site Litoral Virtual em 06/10. Hoje ainda pela manhã, recebi uma ligação da chefe de eventos da FUNDART, Monique, conferindo à mim Menção Honrosa pela categoria Pintura Contemporânea pelo III Salão de Belas Artes de Ubatuba. Nem tal notícia fez minha indignação acalmar. A idealização do projeto da mostra "CULTURAS DO ARTESANATO BRASILEIRO", iniciada por mim em Julho de 2005, deu-se através da oportunidade de reunir as culturas caiçara, indígena, africana, européia e asiática em um único evento na cidade. A indiferença por parte das autoridades em não disponibilizarem um único espaço adequado para os moradores das aldeias indígenas comercializarem seu artesanato, faz dos índios, verdadeiros brasileiros e artistas da cidade, pessoas mal-vistas e vítimas de preconceito social ao se submeterem a expor seus trabalhos sob um tapete na calçada, com suas famílias, inclusive crianças. É vergonhoso deparar com os verdadeiros donos da terra vendendo seus artesanatos ricos em cultura, técnicas e crivo estético no chão da feirinha do centro, a qual está tomada por produtos made in Paraguai e China. Por isso, o espaço expositivo contemporâneo chamado GALERIA NATURALI, também idealizado por mim em Julho deste ano e disponibilizado pela proprietária do Naturali Garden Center, a qual apóia diretamente artistas e artesãos da cidade desde a abertura de sua loja, foi inaugurado justamente para os mesmos mostrarem seus trabalhos durante todo o ano. Como moradora da cidade há pouco mais de um ano, desde Julho de 2005, me dedico às atividades culturais, remuneradas ou voluntárias, na tentativa de colaborar com a cidade nos aspectos artísticos e culturais. Para esta mostra, realizada graças ao apoio e incentivo da coordenadora do Grupo Setorial de Artesanato, Helena Otoni e integrantes da Comissão Étnica além do presidente da FUNASA, Marcos Siqueira, busquei diretamente a arte e cultura indígena das aldeias Morro Grande e Boa Vista. A desesperança e o sofrimento são visíveis no olhar dos caciques Awá e Altino. Mesmo assim, ouvi pedidos de ajuda pelos líderes das comunidades, vítimas do preconceito e exclusão social. No mês de Abril deste ano, através de pesquisas, me deparei com um artigo publicado pelo mesmo site Litoral Virtual que fornece um dado falso ao afirmar que na aldeia Morro Grande (Renascer) existem 200 índios. Segundo Cristiano, filho do cacique Awá, estudante de Pedagogia da USP, a comunidade possui apenas 45 ÍNDIOS! Ainda que a mostra prestigia a arte indígena no texto por mim redigido, a assessoria de imprensa excluiu o índio e o asiático na sociedade brasileira, ao vetar tais culturas da exposição na publicação do texto do Litoral Virtual. 1) O Festival do Índio, realizado há 5 anos em Bertioga, toma dimensões grandiosas e é internacionalmente reconhecido sendo que duas das aldeias estão nesta cidade chamada Ubatuba. 2) O Festival do Japão, em sua 8ª Edição, mobilizou milhares de cidadãos. Há poucos meses, o Presidente Lula sancionou uma lei que define 18 de Junho como o Dia Nacional da Imigração Japonesa, informação a qual recebi pelo site UbaWeb, assim como um artigo que explica o Haicai. Vivemos a contemporaneidade. A cidade disponibiliza de uma única fundação de arte que tem o site fora do ar desde o início do ano e os artistas locais, não têm seus nomes nem suas produções divulgadas como deveriam ter. Instalações contemporâneas não puderam ser inscritas para o salão de Ubatuba. Embora a comissão da FUNDART tenha aprovado dois projetos de minha autoria (um em Julho e outro em Outubro) a imprensa local descartou o objetivo principal da mostra cultural: a integração das culturas brasileiras. Poderia muito bem me acomodar e aguardar um próximo evento para expor meus trabalhos. No entanto, sou paulista (e paulistana) e, uma vez residente nesta cidade onde fui muito bem recebida, passo a pesquisar, estudar, respeitar e defender a cultura local. Sou muita grata às pessoas que me apóiam nesta cidade, e conseqüentemente, ganho força para lutar pela divulgação e preservação da cultura das classes sociais e etnias menos favorecidas. Sonho um dia ver Ubatuba como referência da arte e cultura, assim como a cidade de Paraty é exemplo no campo literário. O potencial dos artistas e artesãos da cidade é a motivação maior. Isto é só o começo. Ainda tenho muitos projetos artísticos e culturais a serem apresentados, sendo que um deles, se aprovado pelo Ministério da Cultura nos próximos anos, irá contribuir diretamente com a cidade, não só no campo cultural, mas também para o turismo local. Precisamos na notícia verdadeira, nua e crua, notícias distorcidas já recebemos muitas. Subestimar a capacidade e a inteligência do povo é um equívoco!!! Assim, conto com a atenção e apoio do editor e redatores deste site em CONSIDERAR meu texto em relação à mostra "CULTURAS DO ARTESANATO BRASILEIRO", em anexo, texto o qual descreve o real objetivo da exposição e DESCARTAR o texto redigido pela assessoria de imprensa que, se ainda não chegou à vocês, está por vir. Caso o meu pedido o comprometam, peço-lhes então que não publiquem ambos os textos: nem o meu e nem o da assessoria.

Grata pela atenção,

Érika Onodera
Artista Visual e curadora da Galeria Naturali