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Opinião
07/10/2005 - 06h16
Os degredados de Poker Flats
Ralph J. Hofmann - MSM
 

Não sei se o nome acima corresponde à tradução oficial do conto de Bret Harte, mas é o nome que me ocorre no momento para "The Outcasts of Poker Flats".

Mas é um conto muito adequado para este momento da história brasileira. Ainda mais por ser baseado num caso real.

Poker Flats era uma dessas muitas cidades que nasceram com o garimpo, expandiram-se e depois com o fim das jazidas, fossem de ouro ou prata desapareceram.

No seu auge, Poker Flats tinha uma rua principal com restaurantes, prostíbulos, saloons, antros de jogatina, xerife corrupto, assassinos de garimpeiros isolados e todos os chavões normais.

De uma forma geral, esta estrutura para atender à ânsia de bebida, jogatina e mulheres era parte normal da vida nesses campos; contudo, em Poker Flats houve um momento em que a vida tornou-se intolerável aos medianamente honestos. Não havia mais madeira que desse conta dos caixões necessários para enterrar os assassinados nas trilhas que levavam à cidade, quem conseguia chegar à cidade era lesado nas mesas de poker etc.

Alguns mineiros haviam trazido suas famílias, havia a possibilidade de criar as instituições normais de uma comunidade, os garimpos estavam se transformando em companhias mineradoras, os primeiros ranchos e fazendas estavam se instalando na zona rural.

E neste momento ocorreu algum crime mais hediondo que levou os homens de bem ou ditos de bem a optar por uma limpa. Já que o Xerife não cumpria sua obrigação, eles o fariam. Numa certa noite reuniram-se, armaram-se e atravessaram a cidade. Enforcaram os piores infratores e reuniram um certo número de infratores menores e os escorraçaram da região.

Em pleno inverno, sem mais do que o mínimo necessário de mantimentos um grupo deixa a cidade numa diligência. A certa altura, a neve bloqueia a diligência e os passageiros conseguem se abrigar numa cabana abandonada. Falta quase um mês para o degelo. Uma a uma as pessoas vão morrendo sendo que ao fim resta um casal de jovens, quase inocentes, e um velho jogador que se suicida para que restem suficientes mantimentos para que o casal sobreviva.

Ou seja, o descaso das autoridades levou a sociedade ao ponto de ruptura. Chegou o momento em que o povo se insurgiu contra as autoridades e agiu duramente, e até em certos casos com injustiça.

Imagino o que ocorreria se ao bloquearem pela milésima vez os túneis do Rio de Janeiro os bandidos atingissem o fim da tolerância dos cariocas. Imagino os cariocas armados revidando contra os bandidos. Tendo matado os bandidos que bloqueiam o túnel subiriam os morros matando aquelas pessoas que encontrassem armadas. Sim, morreriam algumas dezenas de inocentes no fogo cruzado, tanto nos túneis quanto nos morros mas imaginem a catarse do povo. Estaria pela primeira vez levando justiça aos que lhes têm tomado a cidade, não encastelando-os em fortalezas protegidos da população por agentes penitenciários, mas levando-lhes uma justiça mais elementar.

Na verdade, em nenhum lugar do Brasil formou-se até agora um comitê de vigilantes ao modo de Poker Flat. Mas há explosões como a de Goianésia, onde a população é pequena e cada crime ainda é um crime e não uma estatística.

Isto prova que o povo brasileiro, no geral, dá mostras de ser suficientemente responsável para ter armas em casa, se devidamente registradas e portadas. Mas se a sensação de impotência aumentar ante o baixo valor da vida e da propriedade nas grandes cidades, não duvido que venhamos a ter grupos armados usando armas compradas no mercado negro, executando não apenas os bandidos senão os juizes, policiais, secretários de segurança que são percebidos como cúmplices das pessoas que conseguem manter reféns algumas das maiores cidades do mundo.

Querem discutir desarmamento. Ok! Que tal fazer isso dois anos após os assaltos à mão armada, estupros e assassinatos no decorrer da execução de crimes, não crimes passionais mas crimes visando dolo, caírem para 50% do nível atual?

Qualquer outra condição cheira à entrega do pescoço dos inocentes a uma guilhotina operada por criminosos.


Nota do Editor: Ralph J. Hofmann é profissional liberal, atuando na área de exportação de manufaturas brasileiras desde 1968.

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