"O visual não chega a ser agradável, agravado pelas fotos que a imprensa, especialmente a semanal, se esmera em apresentá-lo como cangaceiro" - Carlos H. Cony, (FSP, 12.09.2005) Severino Cavalcanti renunciou por ter culpa. Este é o fato. Mas há muitos "severinos" por todo o Brasil. Imaginam, entretanto, os que moram de Minas para baixo, que não. Acreditam que só o nordeste é lugar de incultos, desonestos e dos esteticamente não apreciáveis. O problema é que o nordeste sempre foi tratado assim, como uma terra de "severinos", apenas. O nordeste, não é responsável se 300 deputados do Amazonas ao Rio Grande do Sul votaram em Severino há sete meses. A culpa, assim como a glória, é individual, não é de uma região. O nordeste tem culpa, sim, de deixar que achincalhem seu povo comum em programas de televisão, jornais e outros que tais. O nordeste tem culpa sim, de não reagir às grosserias perpetradas contra sua gente que luta e tenta sobreviver em ambiente hostil e preconceituoso. As novelas (onde os nordestinos são quase sempre coronéis, porteiros ou domésticas), os programas de humor e outras formas sutis de gozação são vistos, lidos e ouvidos como se isso fosse natural acontecer. A lei Afonso Arinos, que trata da discriminação racial, poderia, quem sabe, ser invocada, em sentido lato, para coibir tais abusos. E, igualmente, os nordestinos deveriam demonstrar o desagrado coletivo. A justiça e a imprensa não devem julgar pela origem. O que revolta é aproveitarem ocasiões desse tipo para denegrir a imagem de uma região, como se o fato de ter nascido em um lugar determinasse o DNA da ignorância, da periculosidade ou da desonestidade de alguém. Personalizam atitudes, generalizando comportamentos. No calor das discussões atuais do Brasil, houve a disseminação quase diária desses fatos, que transcendem a culpa individual e cria-se um estereótipo. Essa visão, meio que subliminar, pode, se exagerada, tender a uma espécie de fascismo, em busca de uma eugenia que o Brasil não tem e nunca terá. Este país, em que a maioria teima em parecer o que não é, fazer o mínimo que pode e viver acima do que deve, tem que cair na real de que é latino, misturado. Não adianta copiar, fingir e pensar que não é. E ser latino deveria ser motivo de orgulho, pois a mistura de raças sempre é um remédio contra pretensões desse tipo. No século passado milhões de pessoas foram mortas por conta de sua origem. Neste século, profundas diferenças e tratamentos entre raças têm produzido tragédias e guerras. O Brasil não deve aceitar discriminação. Afora em guerra, ninguém comete crime em nome de um país. E de uma região, muito menos.
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