"Leis proibindo o porte de armas desarmam somente aqueles que não estão nem dispostos nem determinados a cometer crimes." - Cesare Beccaria (1738-1794) Um sujeito invade a sua casa, ameaça sua família e pretende roubar seus pertences. Diante de você há um revólver e um telefone. Qual dos dois objetos você escolhe? O referendo de outubro quer deixar-lhe apenas uma opção - o telefone. Este será o resultado da proibição do comércio de armas. A população desarmada será prato cheio para criminosos (que ignoram as leis) e para o próprio Estado (que está sempre acima das leis). Como disse um amigo recentemente, quando ter armas for contra a lei, apenas os fora-de-lei as terão. Existem diversos argumentos contra e a favor do uso de armas. Os principais argumentos contra as armas são aqueles que dizem que elas são responsáveis por inúmeras mortes e pela violência. Os paladinos da paz - a Rede Globo, a ONG Viva Rio, intelectuais, artistas e personalidades diversas - não evitam dizer que as armas causam a violência, numa lógica semelhante àquela que pretende proibir o uso de machados com o objetivo de proteger a Amazônia. Mas machados não cortam árvores sozinhos e armas não disparam sozinhas. As estatísticas privilegiam o lobby anti-armas. É muito fácil saber quantas mortes são causadas por armas de fogo. É difícil, mas importante, saber quantas mortes e crimes foram evitados com o uso dessas armas. Outro número importante: estima-se que o custo do referendo, somado ao custo da campanha pelo desarmamento (que desembolsou dinheiro público desarmar cidadãos honestos, pois não se tem notícia de que criminosos se desarmaram por causa da campanha), gira em torno de R$ 600 milhões, dinheiro suficiente para a construção de mais de 40 presídios. Por essas e outras razões, é um erro colocar as armas no centro das discussões sobre a violência: 1) A eliminação das armas não irá desarmar os criminosos e, assim, não reduzirá a violência, podendo mesmo causar efeito oposto, como aconteceu na Austrália e em outros países. 2) Uma população desarmada - cidadãos honestos e trabalhadores - dependerá muito mais de um Estado que já provou ser incompetente para resolver os problemas de segurança pública. 3) O primeiro e mais importante passo dado pelos nazistas para assassinar judeus livremente foi desarmar a população. Uma população desarmada não tem como se defender de um Estado criminoso - e o Brasil não está muito longe disso. 4) O que se discute com o referendo é o comércio legal de armas de fogo. Não há notícias de criminosos utilizarem armas legalizadas. Resultado disso é a anulação do direito à defesa, condição básica e elementar para que qualquer cidadão honesto possa viver com segurança. Pessoalmente, nada tenho a favor do uso de armas. Não as considero o meio mais eficaz para defesa pessoal. Acredito na prevenção, na educação e no bom senso para evitar e combater a violência. Mas não posso concordar com uma lei que, uma vez aprovada, beneficiará mais os criminosos do que qualquer outra parcela da população. Mesmo que eu dispense o uso de armas de fogo para me defender, quero ter essa opção. Esforço político, dinheiro público e propaganda maciça teriam sido melhor utilizados em benefício das polícias, da educação, de ações preventivas e do asseveramento de leis de combate ao crime. Se aprovado, o referendo de outubro não será apenas um tiro de misericórdia na segurança de cidadãos brasileiros; será também um tiro pela culatra para as pombinhas da paz.
Nota do Editor: Christian Rocha vive em Ilhabela, é arquiteto por formação, aikidoka por paixão e escritor por vocação. Seu "saite" é o Christian Rocha.
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