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SEÇÃO
Crônicas
15/10/2005 - 16h07
Dom Capote e a morte
Chico Guil - Agência Carta Maior
 

Se as flores fossem eternas,
teriam as pétalas duras
e cobertas de mofo.
A beleza das flores
pertence à sua fluidez.

Uma esfera lisa, brilhante, verde-lima de passagem para o laranja, e em torno uma rede marrom-clara finíssima dividida em cinco etapas, formando uma cúpula ogival. É assim o physalis, após alguns dias de chuva, quando as brácteas que recobrem o fruto já perderam a substância, deixando somente as nervuras, a rede que segura a pequena esfera de sabor exótico. A bolinha fica presa ali, e uma criança desavisada poderia mesmo perguntar "como foi que Deus botou essa bolinha ali dentro?".

Vi na revista a reportagem sobre essa fruta rara, que há décadas cresce nos fundos no meu quintal. O mérito da matéria foi fazer-me prestar mais atenção a essa pequena maravilha do meu cotidiano, a que desde crianças chamamos "capote", e somente alguns poucos tinham coragem de comer, pois o gostinho agridoce fazia pensar em veneno. Mas na reportagem diz que é bom para colesterol alto e vários males degenerativos!

Quem diria, o capote, bem vestido pela reportagem, uma fruta exótica que sugere duendes, fadas, reinos orientais, tesouros medievais... senhor capote!

Pequenos milagres

Talvez uma lupa possa ajudar na observação daquele matinho sem graça, aquela "praga" que cresce no vaso da sua rosa preferida. Olhando bem de perto, você notará que aquelas manchinhas brancas são flores, com estames amarelos, laranjas ou vermelhos. As pétalas dividem os círculos florais em ciclos bem definidos, e as cores se transformam em nuances de gradações tão suaves que quase passam despercebidas, e aí está o maior mérito do artista. Verdes que vão do amarelo ao branco como quem passa numa lufada de vento, um sopro de pigmentos espalhados sem manchas, sem erros, numa técnica tão complexa que ninguém jamais poderia imitar, pois são compostos de minúsculos pedaços de vida. Texturas de pigmentos vivos, são assim as superfícies das pétalas, algo que nenhum revolucionário pintor conseguirá imitar.

Quem puder salvar alguns minutos para olhar esses milagres, concedidos com insistência pela Deusa Natureza, perceberá gratificado como surgem os matizes máximos, o vermelho púrpura das cerejas, o laranja crepúsculo das ameixas, o verde vigoroso das folhas da tangerina! Depois vêm as manchas nas cascas das maçãs, a degeneração e a morte dos pêssegos...

Descobrir mesmo nas frutas saudáveis essa qualidade da morte, tornará mais justo e suave o caminho de qualquer pensador.

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