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Opinião
15/10/2005 - 14h19
Professor, águas e exibições
Quincas Cruz Neto
 

O que entendemos por "Ser Professor?": Essenciais para as sociedades e, metaforicamente, podemos classificar nós, professores, como sendo águas. Somos "primeira água", ou seja, sempre nos achamos pouco experientes. Porém somos "água-doce", excelentes, insubstituíveis. Sem ingenuidade, há em nós águas salgadas, dormentes, "águas passadas" e uns que estão indo por "água abaixo", não realizando, fracassando e, até mesmo, sujando a água que bebe. Queremos ressaltar aqui principalmente que, se somos águas, é porque podemos deixar os nossos alunos com "água na boca". Fazer crescer esta água, aguçá-los ao gosto pelo saber, pelo querer conhecer, sabemos que é possível, mesmo que lentamente. Com a certeza de que só os professores comprometidos com a educação enquanto processo conseguem. Somos águas que irrigam tantas sementes. Nossos alunos... sementes.

Porém, ser professor é também ser um grande exibido, alguém que se revela e que se mostra. Quem não gosta de exibir seus conhecimentos? É como se fôssemos atores. Isso me faz recordar de uma entrevista exibida há algumas décadas na televisão brasileira, onde a entrevistada era a atriz Marília Pêra. A atriz fora professora primária antes de entrar para o mundo das artes cênicas. Perguntaram-na como teria sido a transição da sala de aula para os palcos teatrais. Ela respondeu rapidamente: "Nenhuma! Ser professora é como ser atriz. A gente exibe-se em ambos os lugares"! Concordamos com a consagrada atriz brasileira. E vamos além! O nosso público, os chamados alunos, podem ser os mais severos e críticos, ou até mesmo os mais apáticos e indiferentes. Assim como uma outra a atriz, que recentemente paralisou uma encenação sua pelo toque de um celular durante seu espetáculo, nós também sofremos a mesma intervenção. Os alunos paralisam, de uma forma ou outra, nossos "exibidos" conhecimentos o tempo todo. Embora as instituições escolares tenham sinais, campainhas, que indicam que uma aula vai começar, também nos teatros há um sinal sonoro de que as cortinas irão se abrir e o silêncio se faz necessário. É uma ordem educativa aos espaços cênicos. Porém, ao espaço escolar, se os sinais insinuem ter a mesma conotação, sabemos que muito de nós, professores, passamos pela vontade de nos ’descabelarmos’ porque tal aluno, ou tal turma, não parou ou mesmo ignorou sua aula. É! Este é um dilema cotidiano para nós.

Fazer nosso público interagir com o nosso "exibir" não é uma tarefa fácil, mas deve ser a meta. E aqui está o diferencial. Se, no teatro, a interação se dá mais por conta do respeitoso silêncio, pela gargalhada, pelo choro e aplauso na hora certa, na sala de aula, esta hora certa não existe. Há sempre uma realização dialetizada entre o professor e o aluno, entre a água e a semente. A água ao irrigar a semente, fazendo-a germinar, transforma-a numa árvore. Nós, professores, como água, irrigamos com nossos conhecimentos nossos alunos, transformando-os em cidadãos conscientes e atuantes na transformação do mundo onde nós e alunos atuamos.

Na medida em que nossos alunos conseguem, junto conosco, ser atores e espectadores, aí sim estamos tendo uma aula, a verdadeira prática pedagógica. Portanto, um aluno ouvinte não é um mero espectador. Até ao contrário. Uma aula onde todos mostram, questionam e dialogam com seus conhecimentos, mesmo que no seu sábio silêncio, estamos atingindo objetivos fundamentais da interação aluno/professor, professor/aluno, onde os papéis se invertem, se perdem, se dissolvem. Assim a sala de aula pode ser definida como um espaço cênico onde temos personagens reais em ação, um lugar em que o indivíduo representa seu papel na sociedade. E assim ele deve ser compreendido. E é este papel que nos importa aqui. Aliás, os papéis aqui desempenhados, tanto de quem é, institucionalmente falando, professor e aluno, são os representados e vividos por nós juntos às nossas comunidades.

Portanto, sejamos realistas, deixemos nossos alunos com água na boca e exibamos nossos saberes! Ah! Sempre é bom lembrar que este fazer profissional, é sempre histórico. A realidade histórica em quanto processo sempre em mutação, nós professores e os nossos alunos. Somos sempre águas em movimento. Águas novas, novas águas e águas passadas. Somos Águas. Somos Espetáculos. Somos História.

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