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Opinião
16/10/2005 - 16h42
Ingratidão petista
Maria Lucia Victor Barbosa - Parlata
 
O PT jamais teve essa capacidade do pára-quedista venezuelano, seu poder de fogo para manter a mentalidade do atraso latino-americano

Enquanto o presidente Luiz Inácio faz mais uma adorável turnê pela Europa, afastando-se estrategicamente dos ares brasileiros empesteados pela corrupção do seu governo, do grave problema da febre aftosa, de mais uma misteriosa morte do sétimo envolvido com o assassinato de Celso Daniel, Ricardo Berzoini aparece nas fotos dos jornais com sorrisos de triunfo por sua apertada vitória sobre Raul Pont.

O chamado carrasco da terceira idade discursa sobre a unificação do PT, como se pudesse mudar o DNA (não do Marcos Valério, que sumiu juntamente com a lavanderia petista) do seu autofágico partido, rachado de alto a baixo. Ao mesmo tempo, ele minimiza as falcatruas dos companheiros, seguindo a linha de raciocínio do chefe Lula que não vê nada de mais em caixa 2 ou em recebimentos ilegais, desde que praticados pelos seus.

Como na eleição de Aldo Rebelo, comunista moderado que invoca Deus (essa mutação comunista deve ter se originado da Queda do Muro de Berlin), a facção majoritária exulta, recupera o ânimo e levanta a bandeira da reeleição do simbólico Lula. A ordem é ir com tudo para as únicas coisas o que o PT sabe fazer bem: campanha e oposição. Assim, ao modo guerreiro Ideli Salvati, o PT parte para a luta retirando companheiros do fundo do lamaçal, enquanto revida acusações com acusações a membros de outros partidos, notadamente do PSDB.

É preciso também resgatar a mística dos militantes e simpatizantes, muitos dos quais órfãos da agremiação em que tanto acreditaram. Afinal, militante é coisa útil: serve para com seus dízimos pagar os altos salários da cúpula partidária, é útil para bater bandeira na rua e, nas manifestações, podem compor uma claque eficiente para o líder. Que eles regressem, pois, ao seu "primeiro e virginal abrigo" para dar continuidade ao projeto de poder do partido. E tal projeto inclui num segundo mandato a execução daquilo que se tentou no primeiro e não se conseguiu: a implantação do modelo do grande companheiro da Venezuela, Hugo Chávez.

Convenhamos que é o falso democrata Hugo Chávez, e não Luiz Inácio, o grande herdeiro de Fidel Castro, o líder que unificará sob sua bandeira vermelha os caudilhos sul-americanos de esquerda. Note-se que Chávez é o grande amigo das Farc e do MST que já lhe beija as mãos, o homem capaz de expropriar as terras dos malvados proprietários rurais de seu país, de por para correr as multinacionais que infectam a Venezuela com os males do emprego e da tecnologia, o comandante competente que organiza milícias e exércitos bem armados para se defender do grande Satã Branco, os Estados Unidos.

O PT jamais teve essa capacidade do pára-quedista venezuelano, seu poder de fogo para manter a mentalidade do atraso latino-americano. No poder o que se viu foi petistas indo com muita sede ao pote, se lambuzando nos altos cargos, se deslumbrando com as facilidades palacianas e estatais, mandando a ética às favas e tratando de aproveitar a vida.

Tanto poder lhes trouxe a sensação de imunidade total, como se fossem cidadãos acima de qualquer suspeita. Isso, aliás, pode ser notado no comportamento do próprio presidente da República. Mesmo porque, aconteça o que acontecer ele é protegido pelo capital financeiro e pelas oposições. Já a Primeira Dama, supõe-se que falta pouco para encarnar uma Imelda brasileira, aquela dos mil pares de sapatos. Sem falar em outros familiares dessa espécie de realeza presidencial tupiniquim onde filhos e irmãos se sentem à vontade para prosperar rapidamente na República dos companheiros. Que o diga o primeiro-irmão, Vavá.

Em todo caso, os petistas, além de exímios em shows de cinismo e mentira, como se viu nas CPIs e na tentativa de escapar de seus deputados cassáveis, não deixam de ser ingratos com FHC. Afinal, este foi de fundamental importância para a vitória de Luiz Inácio. Durante a campanha de 2002 ele impediu que Serra entregasse um certo documento à imprensa, que poderia comprometer a candidatura do Lulinha de paz e amor. Declarou que se outro candidato, que não o do PSDB, chegasse ao segundo turno, votaria em Lula. De tão exultante com a vitória de seu sucessor lhe entregou o governo antes da hora. Durante o primeiro ano de mandato de Luiz Inácio, além dos mensalistas foram o PSDB e o PFL que compuseram a "oposição responsável" sem a qual não seriam votadas as medidas provisórias impostas pelo Executivo, e isso não teria o dedo de FHC? Agora, no auge da crise que teria derrubado qualquer presidente da República, não foi FHC que inventou a tese do "deixa-ele-lá-para-enfraquecer?"

O que não mata engorda e se depois de toda monumental corrupção a que se assiste o homem for reeleito, deverá mais esta a herança maldita de Fernando Henrique. E, é claro, mais do que tudo, aos brasileiros que gostam de pagar imposto e serem enganados. Ao final, como sempre, os justos pagarão pelos eleitores.


Nota do Editor: Maria Lucia Victor Barbosa é graduada em Sociologia e Política e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Ciência Política pela UnB. É professora da Universidade Estadual de Londrina/PR. Articulista de vários jornais e sites brasileiros. É membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Londrina e premiada na área acadêmica com trabalhos como "Breve Ensaio sobre o Poder" e "A Favor de Nicolau Maquiavel Florentino". Criadora do Departamento de Desenvolvimento Social em sua passagem pela Companhia de Habitação de Londrina. É autora de obras como "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto: A Ética da Malandragem" e "América Latina: Em Busca do Paraíso Perdido".

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