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Crônicas
17/10/2005 - 14h06
As repúblicas do cagaço
Luciano Pires
 

Vi uma matéria sobre a implementação de mais de 100 mudanças no projeto que mandou dois chineses ao espaço. Eles disseram que não querem repetir os problemas que os estadunidenses tiveram nas últimas missões do ônibus espacial.

A primeira reação que tive foi de exclamar "que audácia". Mas depois pensei mais a respeito. Lembrei-me da enrascada em que os EUA se meteram no Iraque, que parece não ter fim. Depois me lembrei da confusão de New Orleans, que também parece não ter fim. E aqueles escândalos corporativos?

Pois concluí que os EUA são apenas mais dos países que estão naufragados numa epidemia de cagaço. Não tenho dúvidas que se estivéssemos na década de sessenta do milênio passado, esses problemas teriam sido resolvidos em questão de horas. Em 1965 os EUA teriam realizado uma mobilização sem precedentes para resolver o problema de New Orleans. Em 1969, com uma tecnologia pré-histórica, eles colocaram o homem na Lua, sem o medo que os vôos do ônibus espacial hoje trazem.

Sabe a razão?

Aquela era uma época de gente que fazia acontecer. De lideranças que assumiam riscos. De gente treinada para tomar decisões. Aquela era uma época em que os planos eram levados a sério e que cada um tinha consciência do impacto e influência de suas ações sobre o próximo. Aquela era uma época de gente compromissada com a ação.

Hoje o que vemos são estruturas complexas, gente superficial e planos. Planos, planos e mais planos. Todo mundo fazendo planos, apresentando planos, dando-lhes nomes pomposos e depois esperando que os planos se transformem em ação. Como mágica.

São raras as lideranças que assumem riscos. Todo mundo quer livrar o seu. Decisão? Só se for num comitê, onde minha assinatura perca-se em meio a outras dezenas. Assim diluo a responsabilidade.

Fazer acontecer? Só depois que os outros fizerem.

Por isso explode a Challenger. Por isso o Katrina faz o estrago que fez. Por isso os Chineses tem aquela audácia. Por isso os japoneses estão mais uma vez dizimando a indústria automobilística dos EUA.

E sabe da maior? Nós, no Brasil, somos uma cópia piorada dos EUA. Importamos para cá seus sistemas administrativos e os implementamos, numa sociedade que nada tem a ver com a estadunidense.

Estamos criando, aqui também, uma república de cagões. De gente que tem medo de tomar decisão. De infindáveis comitês que permanecem à espera das decisões dos comitês estadunidenses. E surgem planos. Planos, planos e mais planos que, com um trato marqueteiro, são anunciados de forma retumbante e... Nada acontece.

Enquanto isso os Chineses, disciplinados, focados no mesmo objetivo, cientes de suas responsabilidades e comprometidos, colocam dois deles em órbita. E prometem mais.

No mundo de hoje, competitivo e apressado, não vence mais quem tem a melhor tecnologia. Ou os melhores planos. Ou mais velocidade.

Vence quem não é cagão.


Nota do Editor: Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista.

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