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Opinião
18/10/2005 - 14h40
O pensamento "mágico" do desarmamento
Marli Nogueira - MSM
 

Por uma falha qualquer da Natureza, nós, brasileiros, somos providos de um pensamento "mágico" que nos faz acreditar ser possível, só com ele, resolver todos os nossos problemas. Basta "pensar" em eliminá-los e pronto: fiat felicitas! Ao invés de exigirmos providências lógicas para solucionar questões reais - como o desarmamento, a debilidade do ensino ou os impasses da economia - preferimos adotar a crença de que o wishful thinking, uma vez materializado em alguma medida bombástica, por mais absurda que seja, será suficiente para solucioná-las.

Assustados com o crescente nível da criminalidade no país, e influenciados por campanhas desonestas, muitos brasileiros passaram a acreditar na falácia de que, para acabar com ela, basta acabar com as armas - dos homens de bem, é claro! E imaginam-se logo vivendo em um mundo de delícias, em que reinará a paz a que aspira a humanidade. Não mais teremos assaltos, não mais haverá crimes domésticos ou por brigas de bar, não mais veremos estampadas nos jornais as notícias de assassinatos causados pelo simples porte de uma arma de fogo.

E ainda há quem chegue ao cúmulo de justificar o pensamento mágico sobre o desarmamento com base em um novo "projeto de sociedade", como se isso fosse possível, como se o ser humano não passasse de um composto físico-químico que, recebendo a misturinha de mais um componente daqui e dali, pode mudar de cor, de cheiro, de consistência, de volume, ou até mesmo de comportamento. Para essas pessoas, os aspectos abstratos que fazem parte da natureza humana - índole, formação, caráter, tendências, paixões, instintos - não entram no jogo. Só o que conta é o que se pode fazer com os homens, como se faz com as massinhas de modelagem. Com esse pensamento mágico, acabam aceitando a mentira de que assassino não é o homem, mas a arma que ele porta. Ou seja, dão alma a um objeto inanimado, na certeza de que ela sairá do interior do homem para habitar o objeto malvado, indo depois arder nas chamas do inferno de um depósito público, de onde sairá, feliz, para a casa de algum bandido que pouco está ligando para o que pensam nossos governantes. Puro exercício de metempsicose de baixíssimo nível!

Ocorre que segurança não se faz com pensamentos mágicos. Primeiro, porque é absurda a idéia de que a sociedade é algo que possa ser fabricado segundo a nossa vontade. Ela pulsa, inexorável, independentemente dos nossos sonhos ou desejos. Segundo, porque se leis bastassem para que tivéssemos a sociedade dos nossos sonhos, certamente a brasileira seria a mais perfeita do mundo, tantas são as leis que a toda hora se editam para domesticá-la.

Desarmar o cidadão não vai baixar minimamente o índice de criminalidade porque uma arma nunca foi motivo para matar ninguém. É apenas o instrumento com que a ação humana é concretizada. Se não houver revólveres, haverá facas; se não houver facas, haverá cordas; se não houver cordas, haverá venenos; se não houver venenos, haverá ainda as pedras, os machados, as foices e os martelos.

O que reduz a criminalidade são - como bem sabem os povos mais adiantados - ações efetivas de governo. E o governo brasileiro não tem dado a menor mostra de que está disposto a eliminar esse problema. Ao contrário, é, ele próprio, o primeiro a associar-se ao crime, como tem sido demonstrado pelas notícias dos últimos meses. Um governo que rouba, que mente, que esfolia o cidadão com altíssimos impostos, que apropria-se do dinheiro público como se fosse seu, que trata a população como se ela fosse composta por rematados imbecis, que despreza as suas mais tradicionais instituições, que não dá a mínima para serviços essenciais - principalmente saúde, educação e segurança - não pode pretender posar de paladino da justiça ou ostentar o bastião da moralidade e da paz. E, muito menos, mover céus e terra para arrancar dos cidadãos um dos pouquíssimos direitos que ainda lhes resta: o de defender-se, e à sua família, dos perigos que rondam as cidades e os campos.

Antes de desarmar os cidadãos é preciso desarmar o governo, que só age (ou deixa de agir) em prejuízo dos próprios cidadãos: não aumenta suficientemente o número de presídios, não equipa adequadamente as polícias, não paga decentemente os policiais, despreza os serviços de inteligência (a não ser que eles atuem apenas em seu benefício, seja com informações privilegiadas que redundem em alguma vantagem econômica, seja para identificar seus opositores a fim de que sejam devidamente massacrados pela mídia), mantém íntimo relacionamento com o crime organizado (inclusive com relação às FARC colombianas e ao MIR chileno), incentiva uma organização clandestina que aterroriza os fazendeiros (MST), não promove uma reforma no código de processo penal para que se possa realmente punir os malfeitores, não admite que bandidos sejam tratados como tais e, ainda por cima, quer exigir que nós, meros mortais, trabalhadores honestos, sejamos privados do sagrado direito à legítima defesa!

O governo sim, é a urucubaca que se abate sobre nós.


Nota do Editor: Marli Nogueira é Juíza do Trabalho em Brasília.

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