Faz uns 20 dias recebi um e-mail de uma grande amiga que foi morar na Suíça. Ela, que foi acompanhar o marido, um cientista na área farmacêutica, queria saber se eu tinha informações sobre como importar carne do Brasil. A sua intenção era, e é, acredito, montar uma empresa para levar à região onde ela mora, na divisa com a Alemanha, coisas do Brasil. Ela me contou que na cidade onde mora apenas o dono de um restaurante vende carne do Brasil. Ela me dizia que carne é produto raríssimo e que por isso os estrangeiros ficam malucos quando encaram no Brasil uma churrascaria do tipo rodízio. Para completar, ela me contou que um quilo de carne na sua cidade era vendido por algo em torno dos R$ 80. Comecei a pesquisar o assunto, para informar a minha amiga: não deu tempo. A febre aftosa veio e mudou o rumo de um ciclo que vinha muito bem. Se é verdade que o governo, entre seus cortes, deixou o segmento sem recursos, fica caracterizada a economia burra, quando você, que está ganhando num setor, baixa os custos ao máximo, quando deveria aplicar ainda mais para assegurar sua posição. Mas o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse na China no domingo que não foi a falta de recursos que causou a febre aftosa no Mato Grosso do Sul, e que todas as solicitações (de verbas) para a área de defesa animal e vegetal foram atendidas prontamente. O que o ministro quer dizer é que talvez a ganância do fazendeiro, ou por não vacinar seu gado ou por contrabandear de país sem controle de aftosa, seja a grande causa desse problema. Acontece que a fiscalização deveria ser rigorosa e, mais, a punição a quem descumpre a lei. Bem, o certo é que será preciso muita conversa no exterior, muitos churrascos em embaixada para devolver o prestígio da carne brasileira. Os mais pessimistas falam em anos. Essa história faz lembrar um case, falso ou não, que os especialistas em marketing contam em suas palestras. Dizem que havia um homem que ficou rico na Europa fazendo bolo de amêndoas. Mandou então o filho estudar fora e na volta, com toda a sabedoria, assumiu a fábrica, achou vários defeitos e começou os ajustes, sobretudo nos custos. Passados seis meses as vendas, em vez de subirem, caíam fragorosamente. O senhor, então, resolveu ir aos pontos de venda ver o que tinha acontecido. Descobriu, estupefato, que o corte nos custos tinha atingido também o componente mais caro da matéria-prima, justamente as amêndoas. Logo, o bolo tinha deixado de ser de amêndoas. O governo, na melhor das intenções, saiu cortando. Só que a tesoura não poupou nenhum setor e acabou matando a galinha dos ovos de ouro. Entre os especialistas, os mais pessimistas falam que levará cinco anos para que esse cenário de maior vendedor mundial de carne seja recomposto. É pena, pois se trata de um segmento importante na geração de divisas, na criação de vagas, na melhora da imagem do País no exterior, na fixação do homem à terra. Enfim, não será desta vez que os suíços de Basel terão o prazer de saborear a carne brasileira. Minha amiga, que entrou em contato assim que soube da notícia, agora está pensando em café. Tomara que essa cultura não tenha problemas ou que o caso da carne sirva de lição para uma revisão geral em vários segmentos. De todo modo, também é preciso dizer, o prestígio do Brasil e de seus produtos renderam bons preços. Por isso, nessas horas, muitos ficam torcendo para que a mídia amplie ao máximo a cobertura num foco de aftosa como esses, que afeta e representa apenas um pontinho no mapa de um País do tamanho do nosso, mas permite uma supernegociação de preço, para menos, é claro.
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