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Crônicas
23/10/2005 - 15h58
Abobaldo Tambor descobriu o conforto
Chico Guil - Agência Carta Maior
 

Certos heróis contemporâneos
nunca tiveram uma guerra de verdade
para poderem demonstrar
toda a sua covardia.

Quando os Mamonas Assassinas morreram, há dez anos, ficamos sabendo uma semana depois, por intermédio de meu pai, que estava de visita à nossa casa. O vídeo-cassete quebrou há cinco anos, por isso já não assistimos à TV. Nossa internet não funciona há quatro meses, pois somos a última casa da linha, demasiado distante da central, segundo os técnicos da companhia telefônica vendida para os estrangeiros pelo então-governador-agora-senador-caçador-de-corruptos Álvaro Dias. Mando meus e-mails nas lan houses da cidade. Jornal não lemos há três anos e o rádio está sempre desligado, exceto quando saímos de casa, para enganar os ladrões.

Informamo-nos sobre as coisas do mundo quando visitamos os amigos, ou na sala do dentista, como na tarde em que li, num dos jornais mais tradicionais do Paraná, no Caderno G, o famoso Abobaldo Tambor dizendo, num insight absolutamente original, como é da sua faina: "Ser comunista aos dezoito anos é sinal de inteligência; continuar comunista aos setenta e oito é burrice". Confesso que não sei se eram esses os números, mas não posso conferir se os números eram esses, porém o fato é que o Abobaldo estava em Curitiba dando palestra para os funcionários de uma famosa montadora de automóveis, mais confiante e feliz do que naqueles tempos da ditadura, em que ele fazia filmes superconsistentes e famosos, como, por exemplo, não lembro, mas até o fim dessa crônica prometo trazer ao leitor pelo menos um título.

Que bom que o Abobaldo descobriu o conforto do capitalismo e a possibilidade de "falar a milhões de brasileiros", sem precisar ocupar-se novamente com a tediosa fabricação de filmes contrários ao stablishment. Afinal de contas, o comunismo foi derrotado (ainda que tenha na Câmara seu primeiro presidente), e não sobrou pedra sobre pedra para dar uma utilização adequada ao velho martelo. Integrado ao novo paradigma político-econômico, como cabe a um erudito-executivo da sua estatura, Abobaldo convenientemente não poupa elogios à empresa ameritucana que ele representa, ainda que a mesma tenha apoiado a ditadura que foi apoiada pelos americanos na época em que o então cineasta falava mal da América. Mas como dizia um amigo mafioso da universidade do Centro-Oeste (não sei se vocês sabem, mas as nossas universidades públicas também estão tomadas pelas máfias), "é tudo pelos filhos", dizia ele, e Abobaldo deve ter muitos para justificar esse excelente trabalho de divulgação que ele vem fazendo, detonando com os últimos resquícios de socialismo/comunismo que ainda vigoram em certos países atrasados.

Como fã incondicional - embora neste fim de crônica eu ainda não consiga lembrar do título de um filme seu, mas lembro que eram todos excepcionais - quero deixar para o confortável Abobaldo uma questão que ele certamente responderá com galhardia, ainda que eu não venha a conhecê-la, em vista do meu distanciamento cada vez mais profundo da mídia brasileira.

Question: Abobaldo, como você justifica essas posições opostas da maior rede de novelas do Brasil (segundo me contou um vizinho que não perde o Jornal Direcional) e da revista que mais produz novelas no Brasil insistindo para que todos Vejam, sendo ambas ameritucanas declaradas, sobre a questão do desarmamento?

Como não terei acesso à sua resposta, magnífico Abobaldo, tentarei responder por mim mesmo.

Segundo um colega meu, sempre disposto a encarar uma revoluçãozinha de 38 em punho, a emissora que entra em todos os lares quer continuar de bem com o povo, que detesta violência e aprova as atitudes magnânimas de sua TV favorita. Enquanto isso, prepara-se adequadamente a população para a invasão definitiva dos mariners instalados no Paraguai. Ora, que é isso!? O Brasil não pode ser invadido com armas. Ninguém reagiria, mesmo quem tivesse uma garrucha na gaveta do criado-mudo. A reação popular à entrada dos tanques americanos seria tão acolhedora que os "rapazes" do Tio Sam bateriam em retirada, envergonhados, com o pouco de vergonha que lhes resta após esquartejarem setecentas e cinqüenta e duas crianças e velhos em Bagdá. Os Estados Unidos nunca invadirão o Brasil, pessoal, fiquem tranqüilos, pois o Brasil já foi invadido pelos Estados Unidos e basta ver na marca do nosso refrigerante favorito e no linguajar dessa gente chique que lota as universidades.

Mas a revista ameritucana, por que não diz sim ao desarmamento? Feita para a massa pensante, ou para que a massa pensante pense o que a revista receita, ela sabe que os indivíduos dotados de um mínimo de cultura sabem da inutilidade do desarmamento. Da mesma forma que aquele que quer droga no Brasil, tem droga, apesar do "combate" da polícia, quem quer arma tem arma, e não será um referendo popular que vai mudar essa realidade. A revista diz que o referendo é um mero jogo de palavras (segundo li rapidamente numa banquinha de rodoviária), mas a revista trabalha essencialmente com jogos de palavras, servindo sua proposição a dois propósitos: confortar os leitores com a opinião que eles já possuem (com base em pesquisas da própria revista, certamente) e deixar bem claro que a publicação não tem vínculos com a TV ameritucana, firmando, como diz repetidamente o velho editorial, o seu caráter de independência, como convém ao bom e asséptico jornalismo brasileiro, que se mostra cada vez mais um poder independente.

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