Começou com aquele negócio das armas. Eles não sabiam direito o que resolver, se Eles escolhessem uma coisa, metade do país ia ficar bravo com Eles e capaz até que Eles não conseguissem mais se eleger, e se escolhessem a outra coisa, a outra metade é que ficava brava, quer dizer, o cargo dEles estava mesmo numa sinuca de bico, e foi então que Alguém teve a melhor idéia dos últimos tempos: - E se a gente perguntasse para eles? Se a gente fizesse um... um... referendo obrigatório! O resultado foi impressionante. Ninguém no país discutia mais as coisas que Eles faziam lá no congresso nacional, a imprensa esqueceu aqueles negócios de caixa dois, aqueles outros negócios dos correios, esqueceram as viagens do presidente, todo mundo esqueceu de tudo só para ficar discutindo sobre as armas. A coisa deu tão certo, mas tão certo, que, menos de dois meses depois do referendo obrigatório das armas, Eles já propuseram um outro referendo obrigatório, dessa vez sobre a obrigatoriedade ou não do limpador de pára-brisas nos vidros traseiros de todos os veículos automotores nacionais. A sociedade discutiu muito sobre o assunto, a revista Veja lançou uma edição especial dizendo as sete razões pelas quais ela iria votar sim, eu sou a favor da obrigatoriedade do limpador de pára-brisas nos vidros traseiros de todos os veículos automotores nacionais, depois o jornal Folha de S.Paulo publicou um editorial dizendo porque não, ela não era a favor da obrigatoriedade do limpador de pára-brisas nos vidros traseiros de todos os veículos automotores nacionais. E, quando o debate sobre os limpadores de pára-brisas já estava quase se esgotando, Eles lançaram um outro referendo obrigatório perguntando se deveria, ou não, ser proibido o uso de cortadores de cutícula em público. Houve mesmo um alvoroço, as mulheres declarando seus pontos de vista favoráveis ao não, o uso de cortadores de cutícula em público não deve ser proibido, e dos homens favoráveis ao sim, o uso de cortadores de cutícula em público deve ser proibido, discussão essa que lembrou muito os velhos tempos do feminismo e das saudosas queimas de sutiãs em fogueiras públicas. Com o passar dos anos, os referendos foram entranhando-se no cotidiano do brasileiro e, hoje, já é bastante comum termos não apenas um, mas dois ou três referendo por mês, e já corre até mesmo o boato de que não tardarão os referendos diários, ou até mesmo a ocorrência de dois referendos obrigatórios por dia, o que pode, deus nos ouça, nos transformar no país mais referendado do mundo! Já imaginou só, que orgulho? Brasil: o país mais referendado do mundo!
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