A pletora de homenagens prestadas pelo Estado e por empresas particulares de mídia à memória do Sr. Apolônio de Carvalho basta para mostrar até que ponto a vaidade comunista se sobrepôs, na mente nacional, às exigências corriqueiras da moral e do bom senso, a ponto de sufocá-las por completo. O homenageado, em vida, foi servidor fiel de ditadores genocidas, acobertador de seus crimes e fundador do partido mais corrupto da história brasileira. Essa é a sua folha total de realizações. Os dois feitos mais alardeados da sua carreira, a participação na Guerra Civil Espanhola e na Resistência antinazista, só podem ser aceitos prima facie como capítulos honrosos por quem desconheça qual foi o papel desempenhado pelos comunistas nessas duas ocasiões. Na Espanha, eles desencadearam inevitavelmente a brutal reação franquista incendiando igrejas e matando milhares de padres e freiras cujo único crime era a sua fé. Depois, em pleno combate, esforçaram-se mais para destruir seus aliados anarquistas e socialistas do que para vencer o inimigo comum. Por fim, alegando cínicas razões de segurança, transportaram para Moscou todas as reservas de ouro do governo espanhol, acumuladas ao longo de quatro séculos, que obviamente nunca mais foram devolvidas. Apolônio de Carvalho, como todos os outros comunistas envolvidos na Guerra Civil, não combateu em favor da república espanhola, mas da sua completa escravização aos desígnios de um ditador sedento de sangue, em comparação com o qual até a figura sombria do generalíssimo Franco fica parecendo uma opção mais palatável. Quanto à atuação comunista na Resistência, os que participaram dela foram os mesmos que logo antes trabalhavam pelo pacto Ribentropp-Molotov, boicotando o rearmamento francês, abrindo as portas ao invasor nazista e só mudando de lado quando, num giro repentino que surpreendeu o próprio Stálin, o governo alemão se voltou contra seu cúmplice soviético. Os comunistas venderam a França, suspendendo a entrega quando o comprador desleal rasgou o contrato. Não espanta que, ao retornar à França como chefe do exército libertador, o general de Gaulle tivesse como prioridade máxima, após expulsar o ocupante alemão, desarmar os comunistas. Toda uma mitologia cultural fabricada para glamurizar a participação comunista na Resistência não serviu senão para varrer para baixo do tapete do passado culpas que se comparam às dos nazistas e com freqüência as transcendem. Acumular essas culpas e explorá-las como se fossem méritos - tais foram as realizações do Sr. Apolônio de Carvalho e de todos os outros comunistas históricos que, nos últimos anos, os jornais e a tevê tentam incansavelmente impingir como heróis e santos a uma população cada vez mais desprovida de meios para adquirir uma consciência crítica da história. Qualquer tentativa, mesmo tímida, de colocar esses méritos em confronto com fatos históricos universalmente reconhecidos é reprimida de imediato, ante afetações de escândalo, como se fossem blasfêmias intoleráveis. Jornais, TV, partidos políticos de todas as orientações, empresários, banqueiros, educadores, todos se acumpliciam alegremente a esse empreendimento de exploração da boa-fé popular, para o qual não precisam sequer da escusa da fé ideológica. Basta-lhes o oportunismo mais vil. Colaboram, assim, para que a auto-adoração comunista se imponha como critério moral supremo e único, acima da religião, acima das tradições nacionais, acima de todos os valores da civilização do Ocidente. E ainda acreditam que uma cultura assim intoxicada de comunismo, com exclusão de toda veleidade contrária, é compatível com o desenvolvimento do País em direção a uma moderna democracia capitalista. O Brasil não reencontrará o caminho da democracia enquanto as classes dirigentes deste país não se conscientizarem de que uma vida de lutas em prol do comunismo não é nada melhor que um passado de militância nazista. Nota do Editor: Olavo de Carvalho é jornalista e filósofo nascido em Campinas, Estado de São Paulo, em 29 de abril de 1947. Tem sido saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros. Professor de filosofia e diretor do Seminário de Filosofia do Centro Universitário da Cidade (RJ). Autor das obras "O Jardim das Aflições" e "O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras". Editor do site Mídia Sem Máscara.
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