Plantas e animais modificados geneticamente vão unir agronegócio e setor farmacêutico
Uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Universidade de Brasília - UnB, Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp/EPM e Hospital de Apoio de Brasília pode representar uma esperança de melhor qualidade de vida para os portadores de hemofilia. A pesquisa visa desenvolver plantas e animais transgênicos capazes de produzir o Fator IX, uma proteína responsável pela coagulação do sangue. Os hemofílicos não produzem essa proteína e, por isso, quando se machucam, têm velocidade de coagulação muito mais lenta e são muito mais suscetíveis a hemorragias. A pesquisa está sendo desenvolvida nos laboratórios da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma das 40 unidades da Embrapa, localizada em Brasília, DF, sob a coordenação do pesquisador Elíbio Rech, e tem como objetivo utilizar plantas de soja e animais como biofábricas para produção do Fator IX em larga escala e custo mais reduzido. Atualmente, os hemofílicos controlam a ausência do Fator IX com medicamentos, mas se a pesquisa da Embrapa der certo, daqui a aproximadamente 10 anos, eles poderão contar com produtos muito mais baratos, já que serão produzidos diretamente no leite dos animais ou em plantas de soja. A pesquisa com animais é a que está em fase mais avançada, como explica Rech. Segundo ele, até o momento está sendo realizada com camundongos, que são animais que servem como modelo para experimentos científicos, mas o objetivo é desenvolver vacas transgênicas que produzam o fator IX diretamente no leite. "É importante lembrar que esse produto não será disponibilizado à sociedade como alimento e sim como medicamento, já que tem que ser tomado nas doses e quantidades corretas", ressalta o pesquisador. Mesmo assim, será muito mais acessível e barato, pois o objetivo é produzi-lo em sistemas que utilizam plantas e animais. Existem evidências de que a utilização de plantas e animais transgênicos como biofábricas poderá reduzir os custos de produção de proteínas recombinantes em até 50 vezes. As plantas de soja contendo o fator IX já foram transformadas geneticamente, mas ainda não foram testadas. O leite dos camundongos transgênicos contendo fator IX já está sendo avaliado pela equipe da Drª Jussara Almeida, coordenadora do Centro de Tratamento de Coagulopatia do Hospital de Apoio de Brasília, com o mesmo equipamento utilizado para testar os medicamentos existentes no mercado, e os resultados têm sido positivos. O próximo passo, como explica Rech, é testar o leite no sangue de pacientes portadores de hemofilia para avaliar o efeito de coagulação e compará-lo aos produtos comercializados hoje. Novas esperanças O pesquisador acredita que as primeiras bezerras transgênicas contendo fator IX no leite deverão nascer até o final de 2006. Segundo ele, o domínio dessa tecnologia representa uma esperança não apenas para os hemofílicos, mas para a sociedade de forma geral. Já estão sendo desenvolvidas também plantas de soja com anticorpos anticâncer de mama, que vão auxiliar na prevenção e diagnóstico dessa doença; alface com gene para combater a diarréia infantil e soja com gene do hormônio de crescimento. E isso é apenas o começo, como explica Rech: "A utilização de plantas e animais como biofábricas é uma plataforma tecnológica que vai permitir expressar muitas moléculas de alto valor agregado". Além de se constituir em um importante instrumento para a produção de fármacos que poderão ser usados na prevenção e cura de inúmeras doenças que afligem a humanidade, essa tecnologia poderá ser muito importante também para o estudo de funções de moléculas oriundas da biodiversidade brasileira. A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia desenvolve um trabalho sistemático de coleta de genes da nossa fauna e flora e muitos desses genes possuem bom potencial de utilização nas áreas de agricultura e saúde, por exemplo, por suas propriedades medicinais, dentre outras. A tecnologia permitirá descobrir as funções desses genes com maior rapidez e eficiência. Segundo o pesquisador, a tecnologia de utilização de biofábricas para produção de fármacos valoriza ainda mais o agronegócio brasileiro, já que permite a agregação de valor a produtos agropecuários, como plantas e animais. "Além disso, favorece a integração entre o mercado agrícola e o setor farmacêutico. Quem mais ganha com isso é, sem dúvida, a população brasileira, que vai poder contar com produtos mais econômicos e saudáveis", finaliza Rech.
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