...O PT apostou em liderar um governo em que não compartilhava o poder, mas tão-somente recursos. Daí seus acordos com partidos de médio porte de identidade fisiológica. Por certo tempo, conseguiu de fato liderar sozinho o governo. Mas, nos dois anos em que conseguiu fazê-lo, produziu uma sobreposição perversa entre disputas partidárias internas e disputas no interior do governo. Produziu, em suma, um governo gerido como se fosse um partido (e, acrescente-se, um partido gerido como se fosse um sindicato ou uma central sindical). Não é de espantar, portanto, que o governo Lula tenha nivelado a política brasileira por baixo, mostrando-se não apenas incapaz de negociar reformas institucionais urgentes, mas, ao contrário, reforçando da pior maneira possível a esculhambação existente. Para não falar na aposta em um marquetismo nacionalista chinfrim, em lugar de discurso ideológico consistente e sinalizador de rumo. Não estou dizendo que teria sido fácil sair do modelo instaurado por FHC, que as alternativas não teriam de ter sido construídas gradualmente, segundo regras de transição muito claras. Mas o fato é que isso simplesmente não se deu. O PT não foi capaz de interferir na disputa pelo novo padrão de desenvolvimento em um sentido diverso daquele de FHC. Como também não conseguiu criar um modelo alternativo de gestão do Estado brasileiro. Seja como for, faz parte do calvário atual de boa parte da esquerda no Brasil o seguinte: na ausência de uma real alternativa, jogar a última pá de cal poderá significar não apenas enterrar o PT, mas também um dos últimos espaços institucionais com potencial hoje de desafiar o conservadorismo que amarra a sociedade brasileira. Sem alternativa à vista, o espaço para a disputa em torno do novo padrão de desenvolvimento ficará ainda mais estreito e liderado sem contestação pela coalizão conservadora. Ao mesmo tempo, não há outro caminho possível para preservar esse espaço de contestação que não o da crítica e da autocrítica sem concessões das barbaridades cometidas pelo PT dentro e fora do governo. TRÓPICO / "Que projeto de país" por Marcos Nobre. Analisando o excelente texto percebe-se que não havia nenhum projeto de governo, além do continuísmo. Tudo não passou de (falsas) ilusões. Ilusões que nos foram "vendidas" por bons mercadores. Ainda bem que fomos salvos pela ganância (dos mensalões e mensalinhos) e, pela prepotência draconiana (que acomete o poder), assadas juntas, em fogo brando, na fogueira das vaidades. Perdemos o bonde. Claro! Não será o último. Mas, o tempo passa. O tempo? Voa! Não há leite derramado que possa ser chorado. Mesmo assim, quero crer que por carência de "boas" notícias, a mídia (chapa branca ou não) alimenta (e aduba) as sementes e mudas deste continuísmo. Publicam matérias (sem contestação) sinalizando a possibilidade, mesmo condicional, da reeleição. É preciso externar claramente pensamentos e, reiterá-los principalmente e quando, o que tiverem a dizer, for o BASTA! Ou seja: FORA LULA!
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