Já escrevi outras vezes que, em quarenta e quatro anos de Brasil, nunca tinha vivido situação nacional tão confusa, imoral, desrespeitosa da inteligência nacional, dos princípios pétreos da Constituição, dos procedimentos sociais e dos cidadãos. Uma situação de hipocrisia que já cansou quaisquer cidadãos de bom senso. Estou surpreso, confuso, não consigo ver onde nos levará essa avalanche de lama e agressões à inteligência. Na leitura, da grande e da pequena imprensa, tenho observado que não estou só nessa angústia. Cientistas políticos, sociólogos, homens públicos, empresários, cidadãos pensantes e pessoas humildes participam dos mesmos pesares. Na inquietação para encontrar uma luz, mesmo que fosse no final do túnel, voltei a velejar por mares já antes navegados. De novo reli as "Viagens de Gulliver" de Jonathan Swift. As intrigas palacianas, as lutas: pequenez e grandeza, mortalidade e imortalidade, pouco me esclareceram. Apenas propiciaram horas de gozo literário e raios de luz sobre a falta de sabedoria e de instrução de alguns de nossos governantes. Em "La vida es sueño," de Pedro Calderón de la Barca, fui buscar as idéias filosóficas que podiam explicar os fundamentos desta situação. A sublimidade de idéias e ideais do poeta com a vitória da verdade, a justiça e o direito sobre interesses escusos e profecias de bruxas, videntes e feiticeiras também não indicaram o caminho da luz para compreender a realidade que estamos vivendo. A rima e a sonoridade dos versos de Calderón fizeram esquecer, por algumas horas, as inquietações que o momento suscita. Em certo momento, extasiado na leitura, cheguei pensar que era nosso Governante Maior quem falava pelos lábios do Rei Basílio: "Quem pensa fugir do perigo ao perigo vai. Eu mesmo, EU, minha pátria tenho destruído". Foi um sonho. A procura de luz, retirei da estante, "A revolução dos Bichos", de George Orwell. O reli em poucas horas. Sublime e reveladora leitura. Na tela da mente foram passando todas as maracutaias, safadezas, enganos, mudanças na legislação, hipocrisia, ... praticadas, na "Granja dos Bichos". Granja que, ao virar "República dos Bichos", estabeleceu como princípio supremo, "Todos os animais são iguais, mais alguns são mais iguais que os outros". As semelhanças, com a situação política atual, não podem ser disfarçadas. A figura do bicho GARGANTA é o retrato fiel de nossos divulgadores das ações de governo e do Porta-Voz da Presidência. A coroação dessa identidade acontece no parágrafo que encerra a obra. "Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora (nós todos) olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco".(Edição Folha de S.Paulo, pg 96). Será o retrato das CPMIs? George Orwell era profeta! Restava entender o que está se ocultando com toda essa balbúrdia e quais os procedimentos que levam às roubalheiras, opressões, crimes de morte etc. À procura das razões e dos processos reli, "O século do crime", de José Arbex Júnior e Cláudio Júlio Tognolli, (Boitempo Editorial, SP,1996). Na pg. 155 escreve: "Quero terminar este relato falando algo duro, porém verdadeiro: o Poder Público brasileiro está totalmente corrompido pelos cartéis do crime organizado". Na pg. 41, "Mãos limpas: eis uma característica cada vez mais rara nos homens públicos". "A interpenetração entre máfias e poder econômico... ajuda a explicar o descrédito na política e nas instituições. É, nesse sentido, uma ameaça à democracia". Na pg. 85, "Trata-se de gente habituada a atuar na sombra dos aparelhos burocráticos, burlar as leis e - fundamental - a manter as aparências de uma vida devotada à causa pública". As frases são explicativas e esclarecedoras. Estamos vivenciando, nos últimos muitos dias, procedimentos que as confirmam. Com esses homens protagonistas, (seriam porcos Napoleón e Garganta) que afirmam, "cada dia estou mais convencido que sou inocente" está tudo explicado. Temos que nos cuidar para não sermos convencidos que o Celso Daniel e, os outros sete que morreram depois para não abrirem a boca, suicidaram-se. O Valerioduto é invenção da oposição. Os bilhões de reais desviados dos cofres públicos foram aplicados em abrir buracos, nas estradas, por inimigos malvados do governo, propagar o vírus da febre aftosa pelo porco "Bola-de-Neve", em azarar a Educação pelos irresponsáveis professores, a Saúde pelos médicos, a Segurança pelas Forças Armadas etc. Ninguém, "no Governo do PT e associados", fez nada e sabe de nada. Todos são inocentes. Entendi as origens, os processos, descobri os supostos culpados, a dificuldade para cortar na própria carne e para avançar nas apurações. Nesse contexto me pergunto: Qual será nosso futuro? Teremos, em futuro próximo, implantada, no Brasil, uma república comunista? É bom abrirmos os olhos e combatermos os métodos que estão sendo usados. O Brasil não pode ser conivente com métodos de guerrilha e com aqueles que deletam os computadores dos relatores das CPMIs. Nota do Editor: Corsino Aliste Mezquita, ex-secretário de Educação de Ubatuba.
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