Quando começaram a circular as primeiras notícias sobre os processos de cassação do prefeito Manoel Marcos e do presidente da Câmara Municipal, vereador Luiz Lobo, muitos eleitores disseram que as falhas cometidas por essas duas pessoas não justificavam a perda de seus mandatos. Vejamos se essa afirmação é correta: 1) Um político é eleito porque a maioria das pessoas acredita em sua superioridade intelectual e moral. Não conheço ninguém que votaria num candidato por acreditar que ele é menos capaz do que seus eleitores (embora conheça muita gente que votaria nele porque ele é gente-boa...). 2) A superioridade intelectual traduz-se em boa administração, no bom uso do dinheiro público, na clara definição das prioridades municipais. A superioridade moral traduz-se numa conduta pessoal impecável, transparente e honesta. O sistema político baseado nessa superioridade é a aristocracia. 3) Espera-se, evidentemente, que ele mantenha essa superioridade durante toda sua vida pública, não apenas no período de campanha. 4) Embora a origem do político possa ser comum, as atribuições de um cargo público exigem que o sujeito seja reto e perfeito em sua conduta. Um político não é uma pessoa comum. Quanto maior o poder, maior a responsabilidade e maiores as obrigações. 5) Um crime cometido por um político não pode ser avaliado da mesma forma que um erro cometido por um profissional comum. Suponhamos que um marceneiro erre; a conseqüência de seu erro é um móvel ruim e o prejuízo recai apenas sobre a pessoa que contratou seus serviços. Quando um político erra, a conseqüência de seu erro recai sobre toda a população; o prejuízo moral e financeiro é distribuído entre todos os cidadãos. 6) O uso inadequado de veículos oficiais, a prevaricação e as irregularidades na realização de um comício são considerados falhas pequenas pelo senso comum. Mas o senso comum não se aplica aqui, o senso comum só vale para pessoas comuns. Políticos não são pessoas comuns. Políticos não têm direito de errar. 7) Se os políticos não têm direito de errar, o mínimo que se espera da justiça é a cassação do mandato do sujeito que comete um crime eleitoral ou político. As leis eleitorais são claras e numerosas. O político é a última pessoa que pode alegar ignorância em relação a elas, já que é ele próprio que as faz ou executa. O pleno conhecimento e o total cumprimento das leis - não apenas as eleitorais - deveriam ser requisitos obrigatórios para o cidadão que pretende tornar-se prefeito, vereador, governador, presidente, deputado ou senador, e para todo político que queira preservar seu mandato. Impressiona a gentileza e a discrição - que beiram o silêncio babão - com que a imprensa ilhabelense tem tratado deste assunto quando os dois políticos mais importantes da cidade correm o risco de perder seus mandatos. À época em que foi divulgada a condenação do atual presidente da Câmara (o mesmo que propôs a criação de uma praia de nudismo em Ilhabela), um dos jornais locais limitou-se a dizer que o vereador poderia recorrer, que, dados os prazos habituais, ele poderia concorrer às próximas eleições e que, enfim, a condenação não era bem uma condenação. Mas era, e todo leitor esclarecido sabe que o bom jornalismo não é feito de eufemismos. Se o rei está nu, a ética jornalística exige que se diga com todas as letras que o rei está nu. Não se trata, aqui, de condenar moralmente uma pessoa cuja processo judicial não foi concluído (até o momento da redação deste artigo). Trata-se de dar a devida atenção a processos que, uma vez iniciados, mudam seriamente a política da cidade. Que cidadãos comuns resolvam ignorar este assunto, é compreensível num país acostumado a falar de Brasília como algo distante e abstrato; que jornalistas e formadores de opinião ajam da mesma forma, como se se tratasse de um assunto proibido, é algo que preocupa e sinaliza perspectivas sombrias para as próximas eleições municipais. Eu, pessoalmente, tenho tentado fazer minha parte nesta coluna e em meu blog - www.ilhabela.blogspot.com. Para quem usa o Orkut, na comunidade de Ilhabela há diversos tópicos dedicados à política local.
Nota do Editor: Christian Rocha vive em Ilhabela, é arquiteto por formação, aikidoka por paixão e escritor por vocação. Seu "saite" é o Christian Rocha.
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