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Opinião
31/10/2005 - 11h28
O país do faturo
Ubiratan Iorio - Parlata
 

Nina, uma brasileira humilde, sem ter como pagar um plano de saúde privado, que ganha a vida cuidando de idosos em suas casas, sofreu uma queda, fraturou uma perna e foi conduzida a um hospital público do Rio, onde aguardou doze dias, entre dores e dissabores, para ser submetida a uma cirurgia. Culpa dos médicos e enfermeiros? Camila, jovem esposa e dona de casa, ao retornar de carro do colégio onde fora buscar a filhinha de três anos e parar em um sinal no Méier, foi abordada por assaltantes e, como levou algum tempo para retirar a menina do veículo, foi covardemente baleada no braço e a criança ferida pelos estilhaços que, em seus traços, a bala provocou. Culpa dela e de seu marido, que ainda ousam dirigir e parar em sinais nesta cidade sem lei? Tiago, um garoto que cursa a sexta série do ensino fundamental em uma escola pública, lê com bastante dificuldade e não consegue entender nem um sexto do texto que lentamente soletra. Culpa de seus professores? O advogado aposentado Máximo, no mínimo aguarda há dez anos para receber o pagamento de uma ação precatória que ganhou do estado. Culpa dele? O sr. Pereira, nonagenário, após trabalhar até os 70 anos de idade, vive sob condições aviltantes e humilhantes com a minguada e aguada pensão que recebe do INSS. O professor universitário Jorge Jannuzzi espera, há quase cinco meses, pelo CNPJ da empresa de prestação de serviços de ensino e consultoria que resolveu abrir com seu filho, também professor, atraso provocado por três indecentes ingredientes do Estado: a burra burocracia, a inadmissível greve da ECT e um capitão-hereditário, um tabelião que cismou com a sua assinatura!... Culpa do Dr Jannuzzi? E Maria do Carmo, jovem vendedora de Belo Horizonte, que precisa de seu automóvel para visitar, na capital e no interior, uma cada vez mais arredia freguesia, já teve a suspensão de seu carro avariada pela sucessão de buracos em que se transformaram as estradas de Minas. Culpa da moça?

Seis exemplos, comuns, irritantemente comuníssimos, do quotidiano deste que já foi chamado o país do futuro, mas que se transformou na terra do "faturo", de preferência por meio de "recursos não contabilizados"... Seis sagas, seis excertos, de seis setores em que o Estado, tendo a obrigação de fazer-se presente para servir os cidadãos, apenas marca ponto para encher as contas de ladrões acobertados sob o seu manto roto de arrogância, autoritarismo e corrupção. Apenas seis, dentre tantas outras vítimas da máquina de ineficiência e de exploração em que se transformou o Estado brasileiro: Nina, da saúde pública; Camila, da segurança pública; Tiago, da educação pública; Máximo, da justiça (pública, obviamente); o sr. Pereira, da previdência pública; Jorge, da suspeição com que nosso poder público trata os que têm livre iniciativa e a vendedora Maria do Carmo, da infra-estrutura provida pelo setor público.

O leitor precisa ter consciência de que pagamos o incrível número de 74 tributos, entre impostos, taxas e contribuições; que a relação entre a carga tributária e o PIB beira os escandalosos 40% e que, se somarmos o que gastamos (as "elites", obviamente) com os auto-serviços - educação, previdência, saúde e segurança privadas -, porque não temos como confiar nos serviços públicos e se adicionarmos os custos da denominada "carga legal", aqueles que decorrem da corrupção, da burocracia e da inadimplência, a carga-canga tributária que o Estado coloca sobre os ombros dos infelizes cidadãos brasileiros sobe para algo entre 65% e 70% de tudo o que a economia produz.

Enquanto isso, em Brasília, nos 26 estados e nos 5562 municípios, se gasta, esbanja-se e se torra os recursos dos chamados "contribuintes" - belo eufemismo! - com bandalheiras de todas as espécies, de mensalões a empregos para parentes de políticos e magistrados, de um Airbus para os passeios mundiais do presidente a aumentos para funcionários do Judiciário e do Legislativo, de mais de R$ 1 bilhão alocados em verbas para eleger o deputado Rebelo a outra fortuna para a realização do inócuo, insosso, insípido e inodoro referendo de ontem, de 34 estatais criadas em 34 meses de governo ao emprego de hordas de "companheiros" para viverem às nossas custas. Isto e muito mais...

O Brasil precisa mudar, não, amigo leitor?


Nota do Editor: Ubiratan Iorio é Doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.

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