Está dado o tom à militância: afirmem aos quatro ventos e em todos os microfones, que "nada foi provado". O que existe, ensina a cartilha, é uma pressão das elites contrariadas com a nova "lógica" implantada pelo governo petista, que afronta os "interesses do grande capital". Os critérios "republicanos" do governo Lula desagradam aqueles que durante 500 anos "privatizaram" o país. Ufa! Conseguem dizer tudo isso, com ar grave e com vários adjetivos que conferem eloqüência ao discurso. É um mantra, bem ensaiadinho, trazido na ponta da língua. Então vejamos se é assim mesmo. O governo Lula se apresenta como o pai dos pobres, mas é a mãe dos banqueiros. O Brasil ponteia, com vários corpos de vantagem, o páreo da taxa de juros entre os países do planeta. A agiotagem aqui oficializada eleva a remuneração capital a níveis mais do que estratosféricos. Eles são galáticos. A esquerda da CNBB repreende o governo exatamente pela desatenção aos despossuídos, cujo zelo seus prelados imaginavam ser a mola propulsora do petismo socialmente ascendente. Pergunte aos aposentados e aos aposentandos sobre os malefícios que lhes produziu a Reforma Previdenciária do governo Lula. E, depois, indaguem aos nababos da pátria o que pensam sobre a condução petista desse e de outros assuntos da economia. Ao FMI sequer precisam interrogar porque ele se antecipa em mensagens de louvor ao governo brasileiro, gerador de um superávit primário bem maior do que o Fundo exige e quitador antecipado das parcelas da nossa dívida. Lula se elegeu com dois terços dos votos, subiu a rampa como Jesus entrou em Jerusalém. Aprovou no Congresso tudo que quis. Enrolou-se no maior escândalo da história nacional e mantém um índice de aprovação pessoal invejável para quem se aproxima do fim do governo. Em 34 meses não corrigiu nada do que herdou errado e não apresenta benefício que não tenha recebido como herança ou que não haja lhe caído no colo a partir do ciclo de crescimento da economia mundial (devido, aliás, a uma integração que o PT sempre condenou). O que ocorreu na área política está bem nítido ainda em todas as retinas. Quem diz que o mensalão não existiu imaginava, talvez, que ele correspondesse a um pagamento todo santo dia 30, com contracheque e crédito em conta. Convenhamos. Quase duas dezenas de deputados foram pegos na boca do caixa. Dezenas de outros receberam dos deputados Waldemar Costa Neto, José Janene e Roberto Jefferson (aos quais foram concedidos valores milionários, que alegam haver repassado, mas se recusam a dizer a quem). Dinheiro mal-havido circulou pelo país em malas, maletas e cuecas. O presidente confessou a existência e o uso do caixa dois. Pediu desculpas à nação. Renunciou todo o comando do partido do presidente. Caiu seu chefe da Casa Civil. Tombaram dirigentes de poderosas estatais. Uma dúzia de deputados está denunciada à Comissão de Ética. Meia dúzia renunciou ao mandato. E nada foi provado? Então Brasília foi acometida de um pavoroso surto psicótico depressivo. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto e da Presidente Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública. Conferencista muito solicitado, profere dezenas de palestras por ano em todo o país sobre temas sociais, políticos e religiosos. Escreve semanalmente artigos de opinião para mais de uma centena de jornais do Rio Grande do Sul.
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