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Opinião
05/11/2005 - 14h00
Pouca gente sabe que as águas voltaram
Carlos Tautz
 

Novembro já se iniciou e trouxe com ele, embora ainda timidamente, as águas da Amazônia. A estação chuvosa, que alaga e irriga o solo daquela enorme porção de Brasil está começando e pouco a pouco reduzindo a destruição causada pela maior seca até hoje registrada, permanece causando estranheza e lamentos devido aos impactos gerados em rios antes caudalosos e que praticamente secaram.

A recuperação dos níveis dos rios ainda varia de estado para estado. No Amazonas, já é possível observar um fluxo crescente em cursos d’água importantes, como resultado da ocorrência de chuvas nas cabeceiras. Mas, no Pará, ainda se vê aquela cena trágica que caracterizou a recente escassez de água: milhares de peixes mortos, encalhados numa lama ou no chão esturricado pelo sol onde antes apareciam às centenas de milhares diversas espécies, em uma fartura só.

Aos poucos, assim, os rios retornam ao seu volume na bacia hidrográfica onde se concentra a maior quantidade de água potável de superfície em nível mundial. Porém, ao contrário do espetáculo do secamento verificado há poucas semanas, quando os meios de comunicação correram para registrar imagens da aridez nordestina bem no meio do orgulho verde nacional, quase nenhum destaque foi dado ao aumento natural das precipitações e ao conseqüente retorno à normalidade da vida na metade florestada do Brasil.

Esse interesse exclusivo pelo pior era exatamente o que se esperava dos veículos "nacionais". Sediados quase todos no sudeste, os maiores jornais, revistas, rádios e sítios jornalísticos de Internet demonstram que não desejam saber o que se passa em um ecossistema tão complexo quanto enorme. Investem pouco na região porque se viciaram em um padrão de cobertura que busca apenas o espetáculo e o fait divers, mesmo aonde estes insistem em não existir, e não se interessam pela ocorrência calma, quase imperceptível, dos ciclos naturais.

Esses meios de informação, em geral, limitam-se a cobrir dois macroassuntos da vida moderna brasileiras: as eternas crises metropolitanas que assolam um Brasil ultra-urbanizado e as variações de um sistema financeiro errático. Esqueceram-se do restante do território, o real, feito de gente e muita matéria orgânica, aquele que Milton Nascimento sabiamente poetizou como "muito mais do que qualquer Zona Sul".

O resultado é que, mais uma vez, a maioria dos 160 milhões de brasileiros que não vivem na Amazônia Legal segue desinformada do que ocorre naqueles estados. Sequer imagina que, aos poucos, os 20 milhões de almas que moram em Rondônia, Acre e nas demais unidades da federação em que coabitam com a maior floresta tropical contínua do planeta voltam a desfrutar da água pródiga que à casa retorna.

Aqui e ali se informou, em um ou outro noticiário, sem muito destaque, que a estação chuvosa no Norte do País vai de novembro/dezembro a junho, em um ciclo eterno de cheia e vazante que complementa as estações de precipitação forte no centro e do sudeste do País, enquanto na região superior ela pára de cair do céu.

Cá embaixo no mapa brasileiro, a partir de mais ou menos abril (ciclos climáticos admitem muitas variações) e ao longo dos seis meses seguintes, vão-se dando tantas chuvas que geralmente os grandes reservatórios das usinas hidrelétricas terminam essa fase razoavelmente cheios - prontos para fornecer toda a energia que o nosso sistema de consumo em larga medida vai desperdiçar.

O Brasil continental é assim: tão grande que observa "falta" de água numa região porque, ao mesmo tempo, há "abundância" em outras, em alternância natural.

Entretanto, ciclos longos, que demoram a se fechar, pouco interessa aos telejornais dos horários de maior audiência, nem dão capa de revistas semanais. Não produzem imagens fantásticas que tanto agradam nosso jornalismo-vídeoclipe.

E, depois, especialistas de todos os tipos não sabem explicar por que meios de informação tradicionais perdem tantos leitores e espectadores.


Nota do Editor: Carlos Tautz é jornalista.

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