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Opinião
05/11/2005 - 19h36
Quem tem medo da Nestlé?
J. Roberto Whitaker Penteado
 

Entre 2003 e 2005, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor - órgão do Ministério da Justiça - aplicou diversas multas a três dezenas de grandes empresas, algumas multinacionais, por "maquiagem" de produtos, prática que consiste em alterar peso, quantidade ou outra característica - visando, basicamente, disfarçar um aumento no preço final.

No dia 01/9/2005 chamou-me a atenção um "informe" sobre este assunto, publicado nos jornais pela Nestlé Brasil Ltda., por duas razões: pelo linguajar estranho com que a empresa tentava defender a sua posição e pela assinatura - que era novidade para mim: Nestlé Good Food, Good Life - assim mesmo, em inglês.

Eis uma parte do double-talk do texto: O desenvolvimento e a implementação de novas embalagens pela empresas têm por objetivo, além de adequá-las às inovações tecnológicas, acompanhar as tendências de mercado que, em última instância, resultam dos anseios dos próprios consumidores. Sempre que é detectada pelo mercado a necessidade de mudanças em produtos e/ou em suas embalagens e peso, é natural que as empresas que fazem parte do respectivo segmento acompanhem as tendências, a fim de garantir competitividade e manter seu público consumidor satisfeito.

Estranho; muito estranho. Seria "anseio dos consumidores" pagar mais caro pelos produtos? Resolvi partir, por conta própria, para uma reportagem investigativa. No mesmo dia, enviei e-mail ao setor de comunicação da Nestlé, com cópia para o presidente Ivan Zurita - declinando minha condição de jornalista, com perguntas específicas sobre quais, exatamente, haviam sido as alterações e como os consumidores tinham sido informados. Perguntei, também, por que a Nestlé - uma empresa suíça operando no Brasil - usava o inglês no seu slogan. Dois dias depois, recebia um telefonema do Sr. Mario Castelar, afirmando que providenciaria as informações solicitadas. Mas nada aconteceu.

Quase um mês mais tarde, no dia 23 de setembro, mandei novo e-mail, dessa vez à presidência, com cópia para o setor de comunicação, reafirmando o meu direito de ter respondidas minhas perguntas. Uma assistente do presidente mandou-me e-mail, dizendo que o presidente havia dito ao Sr. Castelar que me telefonasse, ao qual respondi (26 de setembro) reclamando que as informações me tinham sido prometidas, mas não fornecidas.

Na seqüência, recebi mais 2 telefonemas: do Sr. Castelar, dizendo que uma pessoa do Marketing ia telefonar-me; o segundo, do Sr. Francisco Garcia, que me perguntou para que queria a informação; disse que era para um artigo que estava fazendo para uma publicação especializada. Convidou-me para ir à empresa e respondi que iria, desde que tivesse a sua promessa de que as informações seriam fornecidas; então, disse que preferia me enviar todas as informações solicitadas - o que não ocorreu até hoje: 31 de outubro.

Talvez se eu fosse repórter da VEJA e tivesse os recursos da Abril à disposição, a Nestlé acabasse por ceder e apresentar o material pedido. Mas tenho dúvidas. Primeiro, de que a Abril ou qualquer outra empresa de mídia brasileira tivesse peito para pressionar um grande anunciante dessa forma. Segundo, que é costumeiro - por parte de grandes empresas, bancos por exemplo - nunca responder nada por escrito, mas tentar resolver por telefone, sem deixar registro. Nos meus contatos freqüentes, com os SACs, as coisas sempre se passaram dessa forma. O mesmo ocorre com jornalistas à cata de informação.

Essa experiência deixa-me praticamente convencido de que a Nestlé, de fato: alterou os produtos, como está sendo acusada, está tentando resolver a questão na justiça - daquele jeito que essas coisas se resolvem, no Brasil - e não tem qualquer intenção de fornecer, nem a mim nem a qualquer outro jornalista, informações que comprovariam a sua culpa (ou, eventualmente, a inocentariam) em especial diante da análise objetiva de uma pessoa como eu, que - além de jornalista - é especialista em marketing...

A bem da justiça, quero registrar que - embora tenha escolhido a Nestlé para a minha investigação frustrada poderia ter feito o mesmo com algumas das outras empresas multadas, na mesma ocasião e pelas mesmas razões: Unilever, Danone, Kraft, Bauducco, Carrefour, Boehringer, Gillette, Johnson & Johnson, Colgate-Palmolive, Procter & Gamble, Fiat Lux etc.

Em tempo: continuo sem saber porquê uma empresa suíça operando aqui há 84 anos - tem de usar, no Brasil, um slogan em inglês...


Nota do Editor: J. Roberto Whitaker Penteado é jornalista e especialista em marketing.

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