Embora superficialmente, nesta cartinha escrevo a respeito do uso da famosa crase, entre nós, mesmo porque a polêmica sobre o assunto está pegando fogo, instalada que está por conta de um projeto que tramita em Brasília e quer abolir seu uso, ou quase. Cito apenas uma regrinha que há, entre tantas outras que nos atormentam, para dizer do que proponho. Devemos falar, "Vou a ou à terra?" O certo, gramaticalmente, é, "Vou a terra", sem crase, porque a palavra terra, no sentido de terra firme, solo, chão, é o oposto de estar "a bordo", não recebendo artigo definido e, logo, não comporta crase. E mais: "Depois de tantos dias no mar, chegamos à terra procurada". Aí tem crase porque a chegada foi proveniente do mar. O grande Fernando Pessoa disse sabiamente: "minha pátria é minha língua", e eu, um desses falantes precários, mas nem por isso menos crítico, reconheço e respeito muitíssimo a nossa língua, bem como quaisquer outras. Ela é raiz de nossa nacionalidade. Com ela é que construímos as nossas vidas, lutando a todo instante. "Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã", escreveu Drummond em poema. A língua é uma das maiores preciosidades humanas e tudo devemos fazer para torná-la ainda mais rica e mais bela. Não vamos abolir a crase, pura e simplesmente. Dogmas à parte, porque dogma é prisão, além de garantia de ignorância, deixemos os radicalismos, sempre românticos, cuidando de nossa língua com todo o amor e carinho que ela merece (nós merecemos), dando-lhe a cada dia maior eficiência e elegância. Gramática, muito bem; gramatiquice, para o diabo que a carregue. Cordialmente Pedro Paulo Teixeira Pinto Nota do Editor: Pedro Paulo Teixeira Pinto é professor e ex-prefeito de Ubatuba. (Fonte: Ubatuba Víbora)
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