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Crônicas
09/11/2005 - 06h24
Esposas e amantes
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

Meu amigo Abrahão Finkelstein é quem sabe contar esta história, mas vou tentar reproduzi-la.

No Bom Fim de nossa infância, havia um rapaz conhecido pela boa pinta, pela boa voz e pelo gosto da vida boêmia (o que, naquela época, significava apenas noitadas em bares). O pai de Milton, ansioso e superprotetor, vivia sempre inquieto; andava pelas ruas do bairro, detendo a rapaziada e perguntando: "Tens visto Milton? Ele tem amantes?".

Ter amantes, naquela época, era o cúmulo da transgressão moral, sobretudo entre os imigrantes, cuja vida girava em torno a uma vida familiar rigorosamente monogâmica. Milton poderia beber, Milton poderia jogar - mas Milton não deveria ter amantes. O pai esperava que ele se casasse com uma virtuosa moça judia, que lhe desse netos e que envelhecesse em paz. Esta era a imagem de uma vida masculina feliz.

A palavra "amante" incendiava nossas imaginações. Para nós, tratava-se sempre de uma mulher bonita, sedutora, uma mulher que sabia tudo de sexo - uma depravada, enfim. Ao mesmo tempo, ter amantes conferia, num Rio Grande eminentemente machista, um certo status ao homem. Coisa que encontrava respaldo na história. O rei bíblico Salomão teve 300 concubinas (como ele fazia para atender a todas é outra questão - haja testosterona). A amante não era o oposto da esposa. Amante e esposa formavam um binômio natural. Esposa era para ter filhos, para cuidar da casa, para acompanhar o marido nas festas. A amante era para o prazer, para a emoção. Notem que o termo "amante" tem a ver com amor, mas onde está o amor em "esposa"? É verdade que muitas amantes acabavam tendo filhos, a poligamia aqui não era tão comum como no Oriente Médio ou na África, mas existia, de qualquer maneira.

A palavra "amante" caiu em desuso. Hoje se fala em namorada (de novo, "amor" está aí presente). Um resultado da desmistificação do sexo: ter relações é coisa habitual, não cria nenhuma categoria moral ou social.

Uma amante pode se transformar em esposa. É só partilhar uma casa comum (sobretudo o banheiro), finanças em comum, filhos em comum. Difícil é transformar uma esposa em amante. Querem uma sugestão? Lutem contra a rotina. Surpreendam-se mutuamente, inventem, criem. Uma noite em um motel, recurso comum, é um estímulo à fantasia, mas há muito mais a nossa espera. Aliás, deve ser algo assim que o Milton procurava.

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