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Opinião
10/11/2005 - 17h04
Falso liberalismo
José Nivaldo Cordeiro - Parlata
 

Pode parecer marcação da minha parte, mas não consigo resistir a comentar os artigos de Miguel Reale publicados no Estadão. São estritamente didáticos para aqueles, como eu, que se tornaram observadores da ação cotidiana dos agentes da revolução gramsciana em marcha no Brasil. Certamente Reale é uma figura de proa nesse processo, pelo renome, pela cátedra, pela influência nos meios jurídicos e políticos, pelo poder de formação sobre as novas gerações. É um socialista juramentado, mas posa de liberal. Pura tática. Reale é o decano dos companheiros de viagem da revolução socialista em nosso País.

Seu artigo "Exemplo de consciência política" é um primor na arte de enganar. Começa de uma maneira afirmativa, ao dizer que o recente "referendo realizado ficará na História republicana como um magnífico exemplo de autoconsciência política". Quem haveria de discordar dessa conclusão? Ocorre que ela veio ex post facto, tornando-o um engenheiro de obra feita. Há pouco mais de dois meses toda a mídia, a Academia e os bem-pensantes posicionaram-se pelo "Sim" fragorosamente derrotado e eu não ouvi a voz de Reale em defesa do "Não". Por que o silêncio? Apenas uma minoria de patriotas convictos e adversários da comunalha (*) saiu em público, falando e escrevendo em defesa do direito natural ameaçado. Reale faz aqui uma introdução benéfica para, na seqüência, injetar a peçonha discursiva.

Continua: "Os ’limites do poder do Estado’, eis, efetivamente um dos grandes problemas da História contemporânea". Ao que eu acrescentaria: também da História antiga. A questão já era objeto da meditação de Platão, dos profetas hebreus, esteve na boca de Cristo ("Daí a César o que é de César") e na pena de São Paulo Apóstolo. A questão é permanente. No Estado encarna sempre o Mal metafísico e o Bem necessariamente está no pólo que lhe desafia e lhe põe limites. A grande descoberta da modernidade é que a redução do Estado ao "mínimo" não é apenas um imperativo ético-religioso, uma ação da consciência moral da Humanidade, é também uma necessidade lógica, um elemento fundamental da racionalidade econômica, demonstrável empiricamente. É essa a essência da economia liberal, que desconhece rival. Todas as tentativas socializantes esbarram em construções teóricas bizarras, que não passam de apologia ao poder imperial do Estado.

Sua primeira afirmação sofística: "Era essa (a defesa do Estado mínimo) a posição original do liberalismo, antes que esse cedesse aos reclamos dos cidadãos no sentido de cuidar de outras exigências de caráter social". Ora, esse discurso de "tudo pelo social" nunca foi uma exigência dos cidadãos, mas uma ação sub-reptícia da classe política comprometida com a revolução social, aquela mesma que bebeu em Lênin e Gramsci e Marx e Rawls e tutti quanti essa idéia de jerico de fazer do Estado o instrumento de ação econômica e de distribuição de renda. Aos cidadãos sempre coube pagar a conta da traição diária na ação parlamentar e legislativa daqueles que abusaram do mandato para agir contra os que lhe deram votos. Essa é a mais antiga tática da esquerda política, de buscar a ocupação dos espaços na burocracia pública e no aparelho estatal de forma geral.

"O certo é que, com a era da eletricidade e os progressos técnicos, em todos os setores, o Estado foi crescendo, chamando a si múltiplas atividades". Outro sofisma absurdo. Não há rigorosamente nada a ver entre progresso técnico e tamanho do Estado. Não se pode estabelecer nenhuma relação de causa e efeito entre uma coisa e outra. Entra apenas como veneno discursivo, persuasivo, para justificar e legitimar a horrenda hidra estatal. É vergonhoso que um homem com a sua dimensão filosófica se preste a esse discurso tão rasteiro. Diz isso para concluir que "... a crise econômico-financeira do Estado redundou na volta da política de iniciativa privada, absorvendo-se a via da desestatização, quer pelo crescente aumento das despesas públicas, quer pelo desperdício e pela corrupção". Dá nome aos bois, mas se exime, como veremos, de chegar à única conclusão que se impõe, a de que não há alternativa ao argumento liberal.

Ao contrário, Reale vai pelo caminho oposto: "Não se pode dizer qual seja o ideal, se a estatização ou a privatização dos serviços públicos, dependendo das circunstâncias ocorrentes". Afinal, a causa da crise financeira estatal é, ou não, o "crescente aumento das despesas públicas, quer pelo desperdício e pela corrupção"? O ideal, posto isso, é um só: reduzir o monstro estatal. Como se vê, o velho jurista criou inimizade com a lógica. Esse erro de julgamento se impôs porque o que Reale queria era exaltar o nome de Bobbio e sua falação gramsciana. Seu (de Bobbio) "socialismo liberal", uma contradição absurda. Qualquer variação no liberalismo é já um passo em busca do ideal coletivista, uma forma peremptória de corrupção intelectual, política e espiritual. A mãe de todas as formas de corrupção estatal.

Não satisfeito ainda se arroga ir além de Bobbio, ao propor um "liberalismo social". Acuda-nos Deus! Liberalismo é sempre "social", palavra miserável que está sempre na boca da comunalha, a fim de enganar o público. Liberalismo social é pleonasmo.

Fecha o artigo com uma afirmação que lhe nega o direito de se dizer liberal por toda a Eternidade, ainda que matizado de "social": "Um exemplo de necessária intervenção do Estado tivemos com a Petrobrás, pois, se ele não tivesse interferido, o nosso petróleo ainda estaria no fundo da terra ou do oceano, ou, então, nas mãos das multinacionais, como e quando lhe interessasse". Só posso dizer que Reale, ao escrever isso, revelou-se que é apenas mais um comunalha entre os tantos que constituem a nossa classe letrada.

(*) Comunhalha: neologismo cunhado por mim pela contração dos termos comunista + canalha, que é um evidente pleonasmo.


Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL - Associação Nacional de Livrarias.

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