As eleições de 2006, para presidente, governadores, deputados federais e estaduais e um terço do Senado, representam um momento histórico peculiar. A onda de denúncias que se abateu sobre o atual governo terá reflexos diretos na mente do eleitor. Ainda será possível a existência do candidato carismático, capaz de despertar paixões? É lamentável que, no que compete aos nossos legisladores, pouco esteja sendo feito para "salvar" a próxima rodada eleitoral. Segundo a legislação eleitoral em vigor, quem quiser concorrer nas eleições de 2006 deve estar filiado a um mesmo partido político um ano antes do pleito. A radiografia do quadro atual é absolutamente diferente daquela tirada poucos meses atrás e que, por sua vez, também é diferente do resultado apurado nas urnas em 2002. O PSB é um típico exemplo de partido em ascensão. Teve um aumento de 81% no número de seus deputados federais. Alguns atos internos propiciaram a ampliação de seus quadros, como o fato de ter passado incólume pelo tsunami de denúncias e irregularidades que assolaram importantes partidos e políticos do País, ter acolhido lideranças políticas dissidentes de outras agremiações, como o ministro Ciro Gomes, e terem seus dirigentes nacionais e estaduais investido na organização partidária com a finalidade de suplantar a cláusula de barreira imposta para as próximas eleições. Enquanto não forem aprovadas regras mais rígidas de fidelidade partidária - como perda do mandato e/ou inelegibilidade -, as mudanças de partido estarão não só legitimadas, mas incentivadas pela legislação eleitoral. Com esse cenário foi dada a largada para a temporada eleitoral de 2006 e, provavelmente, as regras serão as mesmas que nos propiciaram os desastres que vimos no passado. Se ficar tudo como está, continuaremos a ter campanhas eleitorais totalmente entregues a marqueteiros - superproduções dignas de Leão de Ouro, que transformam o candidato numa "Brastemp", exatamente igual àquela que a pesquisa de opinião revelou ser o sonho de consumo do eleitor. O candidato "salvador da pátria" ainda tentará ser apresentado como o único que pode lavar mais branco e resolver todos os problemas que sabemos serem insolúveis de nossa sociedade. O opositor, por sua vez, é mentiroso, incompetente, ladrão etc. Sem falar na fortuna dessas campanhas e nos seus inescrupulosos financiadores, certos de que recuperarão da "viúva" rapidamente todo o dinheiro investido. Por óbvio que há exceções! E são muitas. No entanto, essa cultura está enraizada. Se não houver mudanças no sistema político, depois da eleição as dificuldades serão as mesmas. Para a formação de uma maioria que possibilite governar, aprovar leis e quiçá promover algumas alterações constitucionais, entrarão em ação ministérios, leilões de cargos e até justas liberações de recursos incluídos em emendas parlamentares ao Orçamento, mas sempre como moeda de troca por voto. Há ainda outras questões que, embora não estejam na moda, têm igual relevância, como o atual número de deputados por estado, que desrespeita a proporcionalidade da representação popular. Afinal, por que o voto do paulista vale menos que o dos outros? Enquanto isso ocorre, não sobra tempo para gerar renda, criar empregos, reduzir gastos administrativos, investir em infra-estrutura, incentivar a produção, reduzir impostos, redistribuir renda e aprimorar a saúde e a educação. Tudo isso pode levar o eleitor a mostrar sua frustração nas urnas de forma inédita. Poderemos ter um número elevado de votos brancos e nulos, mas tenho certeza de que a melhor alternativa virá com a escolha daqueles que se comprometerem a promover ampla e profunda reforma do Estado brasileiro, conduzindo o País no século XXI. Nota do Editor: Marcelo Gatti Reis Lobo, é advogado e Presidente do PSB na capital paulista.
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