Imagine-se num bar. De repente, meio que assim, surgida do nada, surge uma loiraça, daquelas arrasa-quarteirão. Você dá uma olhadinha pra ela, ela dá uma olhadinha pra você e, para surpresa geral, inclusive sua mesma, ela vem em sua direção, mostrando um sorriso estonteante e um rebolado mais ainda. Ela se aproxima, olha bem nos seus olhos. E diz, com uma voz rouca e sensual: - Lawrönzekiem marz di paketros? - O quê? - Lawrönzekiem! Lawrönzekiem marz di paketros. A loiraça dos seus sonhos é uma... uma... digamos, uma finlandesa. Mas isso não é problema. Trata-se de uma filandezaça, dessas pelas quais vale a pena qualquer sacrifício. Você arrisca. - Speak english? Espanhol? Qualquer coisa? Ao que ela responde, altaneira: - Brùskwz? Engrichi? Hupytö marz brùskwz? - É, isso mesmo, brùskwz! Ela faz cara de desapontada. Faz um biquinho com a boca. - Güiizentart huzerr, lor, larkatecein... - Tudo bem, tudo bem, larkatecein para você também. Ela sorri. É isso aí: larkatecein deve ser alguma coisa boa. - Larkatecein! - Huzerr marz, larkatecein... - É isso, larkatecein, larkatecein! Você leva a finlandesa até a sua mesa. Todos estão impressionados. - Que diabo de língua é essa que você está falando. - É, é... finlandês. - Eu nem sabia que você falava finlandês. - Eu aposto que não fala. - É claro que falo! - Fala alguma coisa pra ela, então. - Larkatecein! Ela sorri e te dá um beijo na bochecha. - Nossa, e o que quer dizer larkatecein? - Tem que estudar, rapaz, tem que estudar... Você fica ali com ela, e aos poucos ela vai falando mais algumas coisas. - Kliorzünder ornaterzet, lor, kulyminjurs larkatecein. - O que ela disse, o que ela disse? - Ela, ela... perguntou seu nome. - Fala pra ela, fala pra ela. - E como é que você chama mesmo? - Mário. Mário da Silveira. Você olha para a loiraça. Aproxima-se do ouvido dela. E sussurra. - Mariodasilveira... A loiraça arregala os olhos, levanta-se imediatamente, e dá um grande tabefe na sua cara. Você, meio desconcertado, ainda tenta alcançá-la, mas ela já está lá no meio da rua, pegando um táxi. E última coisa que ela faz pra você é um gesto, daqueles que não precisam de tradução. É por causa dessas coisas que, toda vez que eu vejo as manchetes dos jornais dizendo que o Lula encontrou-se com um desses chefes de estado, sozinho e a porta fechadas, como aconteceu nessa visita aí, do Bush, eu fico extremamente preocupado. Eu fico imaginando o Lula tentando falar inglês, e o Bush tentando entender o português, sendo que nenhum dos dois já não são lá grandes mestres nos seus idiomas natais. Pode dar até em guerra, rapaz. Até dar em guerra.
|