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Opinião
14/11/2005 - 16h20
A exacerbação da mentira
Maria Lucia Victor Barbosa - Parlata
 

Ao mentirmos nos isentamos de culpas e responsabilidades, criamos um mundo à nossa imagem e semelhança, pretendemos enganar aos outros e a nós mesmos. Mas para além das mentiras individuais, desde as mais grosseiras até as piedosas, a mentira trespassa todas as nossas instituições políticas e econômicas, e entranha nosso tecido social. E o que é pior, a mentira é bem aceita por nós. Como disse Otávio Paz, "a mentira política se instalou em nossos povos quase constitucionalmente e o dano moral tem sido incalculável, alcançando zonas muito profundas do nosso ser. Movemo-nos na mentira com naturalidade".

Mas se todos os povos mentem existem países onde os poderes constituídos são mais respeitáveis que os nossos, que as atividades econômicas costumam se processar em níveis mais leais que nossas costumeiras práticas corruptas, que a confiança mútua é bem mais generalizada do que entre nós por força mesmo de outra formação cultural. O resultado disso se verá na estabilidade política, no notável desenvolvimento econômico, e aqui cito como exemplo os Estados Unidos, cuja mentalidade é bem diferente daquela dos latino-americanos o que inclui, é claro, a mentalidade brasileira.

Entretanto, nunca se mentiu tanto quanto agora. Avoluma-se de modo sem precedentes a mentira praticada pelo presidente da República e pelas mais altas autoridades do país. Mentem próceres petistas que se diziam exemplos de políticos éticos. Mentem depoentes nas CPIs e o último a dar um show enojante de mentiras foi Vladimir Poleto, ex-assessor do ministro Antonio Palocci que por sua vez mente ao se esquivar das acusações de corrupção feitas por seus ex-homens de confiança com relação a sua administração como prefeito de Ribeirão Preto.

Nas CPIs a mentira é permitida legalmente por ministros do STF, que antes de tudo são companheiros do presidente, sendo que alguns devem à Sua Excelência a nomeação. Mente-se à vontade e os mentirosos não podem ser presos. Mas num país em que criminosos confessos são soltos, que a impunidade é a norma, o direito de mentir não parece chocar a sociedade que se move na mentira com naturalidade.

A questão é que estamos diante da exacerbação da mentira praticada pelos poderes mais altos da República que, se sempre mentiram, nunca mentiram tanto quanto agora. Pior, a mentira que contamina toda a estrutura governamental leva à completa imoralidade, à corrupção total da coisa pública, à eliminação de valores. Vale tudo. O PT, enquanto partido e enquanto governo, elevou a imoralidade no Brasil a um nível jamais visto.

Isso já era perceptível através da propaganda enganosa, engenharia da mentira brilhantemente construída por Duda Mendonça, aliás, um dos atuais desaparecidos do palco circense da mentira em que se transformou o País. Dados e estatísticas, que exaltam estrondoso êxito econômico, são mentiras revestidas da falsa verdade dos números. Bravatas lançadas pelo presidente da Republica, que se vangloria de um grandioso e fictício sucesso, compõe a mentira demagógica. E sua última entrevista, gravada, ensaiada, coreografada e exibida no circo eletrônico da TV, não me deixa mentir.

A mentira nesse momento da vida nacional levou ao apogeu o cinismo. Isso é visível quando o ex-ministro, José Dirceu, diz calmamente, e em tom de vítima, "sou Inocêncio". Quando o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, debocha da sociedade com seu eterno riso de felicidade e mente sob cobertura judicial relativizando o caixa dois, o mensalão e outros crimes classificados por ele como piada de salão que será facilmente esquecida. Quando Marcos Valério, o office-boy de luxo da lavanderia do PT, nega seus crimes com aquele sorrisinho de Mona Lisa. E esses são apenas uns poucos exemplos de mentirosos.

Em meio à mentira exercida sem escrúpulos pelo presidente da República e por eminentes petistas (relembre-se José Genoino) se estabelece a amnésia. Ninguém viu nada. Ninguém sabe de nada. São todos "inocêncios". E quando o presidente Luiz Inácio admite pela primeira vez que é responsável por seu governo, mas que sua função consiste em mandar apurar as pesadas acusações que denigrem a própria imagem do Brasil, a mentira raia ao absurdo. Quem tem um mínimo de informação sabe que manobras de todos os tipos, originadas no núcleo do governo e exibidas por sua tropa de choque no Congresso, são obstáculos freqüentes à elucidação dos deprimentes fatos.

Quando o mau exemplo vem de cima o que se pode esperar? Como se educar um filho lhe ensinando a dizer a verdade, a ser honesto, a procurar através do trabalho o mérito que advém da competência?

Mas acredito que perdemos a taça do festival de mentiras quando ouvi Fidel Castro dizer a Maradona, num programa de TV, que sofreu 600 atentados cometidos pela CIA. Esses americanos! Vão ter pontaria ruim assim no inferno.


Nota do Editor: Maria Lucia Victor Barbosa é graduada em Sociologia e Política e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Ciência Política pela UnB. É professora da Universidade Estadual de Londrina/PR. Articulista de vários jornais e sites brasileiros. É membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Londrina e premiada na área acadêmica com trabalhos como "Breve Ensaio sobre o Poder" e "A Favor de Nicolau Maquiavel Florentino". Criadora do Departamento de Desenvolvimento Social em sua passagem pela Companhia de Habitação de Londrina. É autora de obras como "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto: A Ética da Malandragem" e "América Latina: Em Busca do Paraíso Perdido".

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