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Opinião
15/11/2005 - 08h00
Informação e fonte
Pedro J. Bondaczuk
 

O jornalismo, desde o surgimento dos primeiros jornais na Europa (inicialmente sem periodicidade definida, e depois, diários), há pouco mais de um século e meio, sempre esteve na berlinda. Há quem confie no que lê (ou ouve, ou vê, quando se trata de rádio e de televisão, respectivamente) sem restrições e nem contestações, como sendo a máxima expressão da verdade. Existe, também, quem desconfie liminarmente de tudo o que é noticiado e, até, há quem o conteste de forma absoluta, não acreditando na veracidade de nada do que é informado. Trata-se, pois, pela sua natureza, de uma atividade sempre polêmica, posto que fundamental para a sociedade contemporânea.

Seja, todavia, qual for o meio de difusão utilizado, o jornalismo tem, como matéria-prima, a informação. Certo? Quase! Conceitualmente, ele fundamenta-se sobre três pilares distintos: informar, formar opinião e prestar serviços à comunidade. O mais correto, portanto, seria afirmar que o jornalismo tem como "principal" (mas não a única) matéria-prima a "notícia". Que é, na definição de Phil Emil Dovifat (no livro "Periodismo") "uma comunicação sobre fatos novos surgidos na luta pela existência do indivíduo e da sociedade".

O "Manual de Jornalismo", editado em Lisboa, define notícia como "um fato atual de interesse geral". E para François Marty Baguer y Jesus, em seu "Manual Del Reportaje" (editado em Havana, Cuba), trata-se da "narração de uma troca de relações entre o indivíduo e o meio que o rodeia". Definições, como se vê, - umas mais precisas e outras mais genéricas - existem muitas. Cada qual que fique, pois, com a sua.

Bernard Voyene, no entanto, alerta: "A notícia não é um objeto, mas produto de um juízo". Por isso, no fundo, no fundo, em sua essência, é altamente subjetiva. O mesmo fato, narrado por pessoas diferentes, dificilmente apresenta a mesma versão. Varia em detalhes, quando não no essencial, de acordo com a visão (ou o interesse) do narrador, que chamaremos de "fonte".

Abra-se, aqui, um parêntese, para importante explicação do jornalista francês Jacques Fauvet sobre os vários meios de comunicação contemporâneos (embora tivesse deixado de fora a internet, veículo que na época em que fez essas observações não existia). Trata-se, para quem não sabe, de um profissional vencedor, que fez brilhante carreira no jornalismo do seu país, iniciada como redator de "L’Est Republicain", antes da Segunda Guerra Mundial, e que chegou ao auge quando se tornou, em 1969, diretor do "Le Monde". Ele morreu em 1º de junho de 2002, em Paris.

Fauvet afirmou, em entrevista publicada no livro "As notícias e a informação" (Biblioteca Salvat dos Grandes Temas, Salvat Editora do Brasil, impresso na Espanha, em 1979): "Os órgãos de informação são muito mais complementares que competidores, na medida em que cada um permanece no seu próprio campo de ação. A meu ver, a televisão mostra, o rádio anuncia e a imprensa explica. A imprensa, incluindo a ilustrada, não terá jamais a vida da televisão. A televisão mostrará sempre, será melhor que o rádio, mesmo quando este último pretenda fazer imagens sonoras. O rádio anuncia: será sempre o primeiro, dado o peso da imprensa e da televisão. A imprensa será sempre a única a explicar, porque dispõe de dois fatores que apenas ela possui: permanência e volume".

E o que vem a ser a tal da "fonte" de uma notícia, tão citada nas redações e escolas de jornalismo? É, como a própria palavra sugere: a origem, o nascedouro da informação. Pode ser tanto uma pessoa que testemunhou determinado fato, quanto um documento, um livro, uma revista (como é o caso da "Nature", por exemplo, ou do "Inovação", boletim eletrônico semanal da Unicamp), uma organização ou uma entidade qualquer. Ou, até, como tem ocorrido com bastante freqüência de uns tempos para cá, um determinado blog.

Nem sempre, porém, a fonte é a origem de determinada notícia. Ela pode ser, por exemplo, um informante suplementar, que o jornalista recorra à cata de informação segura para checar um informe do qual teve conhecimento por algum outro meio. Ou seja, para conseguir detalhes, dados, cifras etc. que lhe faltem para elaborar sua matéria. Convém atentar que a fonte, em geral, tem seus interesses. Pode, portanto, estar "poluída".

Ou seja, não se descarta a possibilidade dela estar querendo "usar", de alguma maneira, o repórter para satisfazer os seus fins (legítimos ou não, não importa). E é aí que mora o perigo. Compete ao jornalista ter sensibilidade - aquilo que os norte-americanos denominam de "feeling" - para distinguir o que é relevante e verdadeiro do que lhe é passado e o que não passa de meia-verdade, extremamente perigosa, por sua verossimilhança. Ela é, inclusive, muito mais perversa do que a mentira explícita, fácil de se distinguida.

Quando a fonte admite ser identificada, a responsabilidade do repórter pela matéria é compartilhada. O risco nestes casos é menor, embora sempre exista. Em geral, contudo, o informante exige anonimato. Quando isso acontece... quem assina o texto é que assume integralmente a versão que lhe foi passada. Caso ela se comprove verdadeira, tudo bem. Se não for, porém... o repórter pode estar metido numa enrascada federal! Voltaremos, oportunamente, ao tema.


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor.

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