A revista Newsweek devotou extenso espaço a especulações sobre as conseqüências de mudanças climáticas abruptas que ameaçariam a sobrevivência da humanidade. A produção agrícola entraria em colapso e centenas de milhões morreriam de fome. O cenário apocalíptico está descrito num artigo que anuncia a chegada próxima e súbita de uma nova era glacial. Foi publicado em abril de 1975. Um divulgador da ameaça glacial foi o físico Stephen Schneider, que desde então mudou de lado e é hoje tido como autoridade sobre o fenômeno de aquecimento global decorrente de atividade humana. Tony Blair, que por anos qualificava o aquecimento global como ameaça pior do que o terrorismo, anunciou uma reviravolta em setembro de 2005 e declarou o Protocolo de Kyoto morto. Note-se que a grande imprensa não publicou uma linha sobre a colossal reviravolta de Blair - como que constrangida por omertà, o pacto de silêncio dos mafiosos. Tais mudanças bruscas de opinião têm sua razão de ser. O escritor Henry Louis Mencken, num de seus ensaios azedos explicou: "Num plano prático toda a política visa assustar o público - para induzi-lo a clamar para ser salvo da sanha de monstros imaginários". Num artigo de 1997, a revista Economist enumerou as oito fases deste processo, a seguir resumidas: 1. Alguns cientistas obscuros descobrem o que pensam ser uma ameaça ao planeta; 2. Os jornalistas de esquerda ampliam a extensão da ameaça e a divulgam. Os cientistas tornam-se celebridades (como os do Laboratório do Big Brother, de George Orwell); 3. Os ativistas ecológicos aproveitam a oportunidade e deliberadamente polarizam a questão em termos maniqueístas - nas palavras do artigo original: "Ou você concorda que o mundo está a ponto de se acabar e reage com justa indignação, ou então é lacaio a soldo de sórdidos interesses"; 4. Os burocratas saem de seus casulos e organizam conferências internacionais para debater a ameaça, o que dá ocasião a viagens de primeira classe de funcionários públicos ao exterior. Lá são recomendadas mais restrições contra o cidadão, mais regulamentação de sua atividade e são fixados objetivos totêmicos internacionais - os quais são prontamente esquecidos; 5. Chega a hora de azucrinar um bode expiatório. Este normalmente é a América, ou grande empresa [Coca Cola, Esso, Macdonald´s, Monsanto, Citibank, Dow, indústrias farmacêuticas, Wall Steet, Fundo Monetário Internacional]; 6. Entram em cena os céticos que comprovam que a ameaça é improvável ou equivocada. Os dissidentes do consenso fabricado pela mídia levam os ativistas ecológicos a acessos de raiva piedosa contra editores de jornal. "Como ousa esse jornal devotar espaço a opiniões de minoria herege e desacreditada?"; 7. Surgem dúvidas entre os políticos e burocratas e até mesmo entre alguns dos cientistas que primeiro acenaram com a ameaça; todos saem pela tangente aludindo à complexidade científica da questão. Enquanto isso, os jornalistas começam a ficar enfadados com o tópico; 8. Vê-se o mudo e envergonhado recuo das manchetes, enquanto o assunto morre lentamente, para ser substituído, é claro, por ameaça totalmente nova. E assim, em paráfrase do Diário de Samuel Pepys, "De volta à Fase 1"... Além dos estágios do processo histórico marxista há de fato coisas que ocorrem em ciclos inexoráveis. Um exemplo é o cordão celebrado na música do carnaval de 1946, dias antes da posse de Eurico Gaspar Dutra como primeiro presidente eleito depois de 1930, quando chegava ao auge a disputa de cargos entre cortesãos de rodas palacianas: "Lá vem o cordão dos puxa-sacos Dando vivas aos seus maiorais Quem está na frente é passado para trás E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais. Vossa Excelência! Vossa Eminência! Quanta reverência nos cordões eleitorais! Mas se o Doutor cai do galho e vai ao chão A turma logo muda de opinião E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais".
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