Os recentes incidentes na França não podem ser compreendidos apenas pela ótica local. É toda a Europa que sangra e queima. Vimos fatos assemelhados no Reino Unido, na Bélgica, na Espanha, na Holanda e na Itália. A Europa vive sob a ameaça do terrorismo islâmico. Definitivamente, há um inimigo a ser combatido e esse pode ser o vizinho do lado, o que está sentado no trem de metrô, ou no ônibus, ou que circula sem rumo pelas ruas em busca de lançar seu coquetel molotov. A Europa, e a França como tal, colhem o que têm plantado ao longo do tempo. Negaram a sua origem, foram pusilânimes com os inimigos declarados, falharam em desconhecerem que o que torna forte uma Nação e um povo é a sua tradição mais substantiva, a religião. A recusa de se declarar cristã a Constituição européia foi para mim o sinal agudo de sua decadência e de sua fragilidade. Em contrapartida, os imigrantes muçulmanos não se furtam a fazer em público suas orações, não deixam de exaltar seus heróis guerreiros e religiosos, como Bin Landen, não deixaram de comemorar como triunfo a matança dos inocentes de 11 de setembro e os eventos subseqüentes. A Europa tem praticado as modas politicamente corretas ditadas pelas esquerdas ao longo das últimas décadas. Os distúrbios urbanos e os atos terroristas provam que esse caminho não leva a lugar algum. A covardia da França em não apoiar a coalizão que fez a guerra no Afeganistão e no Iraque não impediu que a sua juventude sarracena usasse a sua maior arma - seu poder numérico - e sua vantagem estratégica - residir no coração das cidades onde estão os seus inimigos - para impedir o modo ocidental de viver. Para desafiar a tradição judaico-cristã. Paris está tornando-se uma grande Beirute. A Europa move-se para imitar o modo de vida violento e instável do Oriente Médio. As análises que partem de supostas desigualdades para explicar as arruaças são erradas e inúteis. Não compreender a realidade apenas contribui para que ela devore o observador. As arruaças são uma forma branda dos sarracenos darem continuidade à sua guerra civilizacional contra o Ocidente. Um prolongamento dessa situação terá impactos psicossociais e econômicos formidáveis. Boa parte de sua economia depende do turismo e, portanto, da paz social. O prolongamento da situação ferirá de morte a já frágil situação econômica da França. Estive em Paris na primavera de 2000. Dois fatos marcaram a minha passagem por lá. O primeiro o assalto que uma gang de jovens de pele escura, tipo árabes, fez a um garoto francês de cerca de 18 anos, que estava a alguns passos de mim. Houve corre-corre, a polícia chegou rapidamente e os bandidos foram presos. Não esqueci a expressão do jovem, inconformado com a ousadia e a covardia dos meliantes. Aquilo não poderia acabar bem. Outro fato que me chamou a atenção foi a presença maciça de não franceses por onde andei. Fui aos principais pontos turísticos, aos museus, andei pelo rio Sena, subi a Torre Eiffel e coisa e tal. Espantava a presença maciça de não franceses. As ruas estavam tomadas por não franceses. Claro que isso também não poderia redundar em boa coisa. Afinal, a França é dos franceses e para os franceses. Como o Brasil é dos brasileiros e para os brasileiros. Quando vi as cenas do Hino Nacional Francês ser vaiado em um jogo de sua seleção de futebol, poucos anos atrás, em plena Paris, certifiquei-me que o estouro da violência seria uma questão de tempo. Franceses nascidos em solo francês não se reconheciam como tal. Antes de tudo, viam-se como muçulmanos ocupando um país estrangeiro. A França cristã não era considerada sua Pátria. Fato assim impede qualquer paralelo com o problema racial vivido pelos EUA nos anos sessenta, de solução bem mais simples. Jamais esteve em jogo uma guerra de destruição fundada em uma religião alienígena. Aqui o choque civilizacional é uma obviedade. Na raiz dos distúrbios da França está o exemplo do voluntarismo do terrorismo árabe contra o Ocidente, que objetiva destruir os ocidentais enquanto tal. Está em marcha uma guerra de extermínio, com todo o horror que essa constatação pode provocar. Negar essa realidade não muda os fatos. Não obstante a fraqueza estratégica militar dos seguidores do Islã, deram-se a missão de retomar o califado idealizado do passado, pelo qual dominariam a Península Ibérica e toda a área do Mediterrâneo. Um evidente absurdo. A Europa precisará acordar de sua letargia diante do perigo islâmico. Mais do que os EUA, protegidos duplamente pelo Atlântico e pela escassa população sarracena em seu território, ela está exposta a todo tipo de ataque. A única defesa de longo prazo, todavia, é a reafirmação de sua superioridade civilizacional. Terá que reafirmar seus valores cristãos, terá que rever sua política de imigração, impedindo que a onda populacional islâmica venha a crescer ainda mais. Terá ela própria que voltar a expandir seus valores, seja no Norte da África, seja Oriente Médio. Isso envolve mudar toda a política das últimas décadas, abandonar a postura pusilânime diante dos potentados árabes, apoiar Israel como ponta-de-lança do Ocidente na região e fazer a guerra quando esse for o único meio capaz de impor a sua vontade política. No plano interno, há que se ter na França o que já fez o Reino Único com aqueles que derramaram o sangue de seus compatriotas e pregam mais derramamento: tolerância zero. Sair do estado de letargia diante da ação de guerra que está vitimando a sua gente é um imperativo moral. Nunca será cedo o bastante para que os erros políticos possam ser corrigidos. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL - Associação Nacional de Livrarias.
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