14/09/2025  00h43
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
16/11/2005 - 12h05
Resgate Ubatuba - Educação
Rui Alves Grilo
 

No começo da atual administração municipal, ao ver a secretária de Educação ser atacada por ações que não cometeu, como eleitor do prefeito e como cidadão comum, usei a imprensa para defendê-la. Sinto-me agora no direito de pedir que a mesma reconsidere a proposta de apostilar os cursos municipais.

Sou participante do Conselho Municipal de Educação, que tem como uma de suas atribuições legais "assistir e orientar os poderes públicos na condução dos assuntos educacionais do Município;" (Art. 2º, VI); assim, sendo questionado por professores municipais sobre este assunto, solicitei que fosse colocado na pauta do conselho. Na última reunião o assunto foi tratado superficialmente no final da reunião, quando a mesma já estava esvaziada e com um número muito pequeno de membros. Embora os argumentos apresentados pela secretária não tenham sido convincentes, entendi que deverá prosseguir nessa decisão. Acho que é melhor prevenir que remediar, por isso decidi fazer esse artigo, tentando evitar um mal maior que é a má aplicação de dinheiro público.

Soube que já houve um questionamento contra essa proposta da secretária por parte de alguns professores que lecionam de quinta a oitava séries e que ela teria recuado, mantendo-a, no entanto, para as séries iniciais. Essa proposta reforça um ensino livresco, que não leva em consideração a cultura de cada criança e a sua relação com o entorno. Portanto, seria ainda mais danosa quando aplicada às series iniciais.

Um bom professor segue uma metodologia científica que parte do incentivo à observação, levantamento de perguntas, sistematização de dados e uso de materiais variados vindos do próprio meio. Com o uso dos meios de comunicação de massa, qualquer criança é bombardeada por um grande número de informações dos mais distantes cantos do mundo. As grandes redes de tv e rádio, de certa maneira unificam as informações. À escola caberia o papel de ajudar a criança a selecionar e processar o que é relevante.

Um dos argumentos usados pela secretária seria garantir a todos, ricos ou pobres, o mesmo material. Segundo a secretária, não há um conteúdo uniforme, que os conteúdos escolares são diferentes em cada escola. Usando o mesmo material haveria uma unificação do que é ensinado. Essa solução é muito simplista e nem o MEC - Ministério de Educação e Cultura - se aventurou a tomar tal atitude porque a educação é algo tão complexo que mexer apenas no material didático não iria mudar essa realidade. Além disso, o próprio MEC já distribui livros para os alunos. Será que a equipe ou firma que produzirá esse material terá mais qualidade que todos os livros que já existem no mercado? Várias prefeituras, segundo notícias que vem sendo veiculadas pela TV Vanguarda e pelos jornais, têm sido questionadas pelas autoridades competentes pelo desvio de dinheiro público para a compra de materiais apostilados. Por que correr esse risco? É fundamental? Vai mudar a qualidade do ensino? Duvido e tenho boas razões para isso.

Na década de 80, como presidente do Comitê de Alfabetização da Fundação para o Livro Escolar, coordenei o trabalho de análise das cinco cartilhas mais usadas no Estado de São Paulo, tentando identificar quais os fatores positivos e negativos nesses materiais. A Fundação também mantinha comitês de análise dos livros de outras áreas (Português, Matemática, Ciências, História e Geografia), organizando seminários e oficinas em que participavam pesquisadores das universidades, representantes de editoras, autores de livros didáticos e as equipes técnicas das Diretorias de Ensino. Nessa época já se questionava o desperdício de dinheiro com a compra de livros, pois se constatava que muitos livros encaminhados às escolas ficavam nas prateleiras e não eram utilizados pelos professores. Esse argumento também foi usado pela secretária. Será que o curso apostilado também não ficará na prateleira?

A partir dessa constatação, começamos um debate com os professores, pois havia professores que usavam livros ruins e tinham bom desempenho, enquanto outros que usavam livros considerados bons mas não tinham bons resultados. A conclusão a que se chega é que os resultados se devem muito a outros fatores, entre os quais, a qualidade de relação e de interação professor/aluno e o nível de clareza que os mesmos têm dos seus papéis no processo de ensino/aprendizagem. Quando o professor se envolve na escolha dos materiais que irá utilizar, tem mais clareza da utilidade desses materiais, das suas possibilidades e insuficiências, recorrendo a outros materiais para supri-las. Portanto, o que poderá realmente fazer diferença é o apoio ao trabalho do professor através da formação permanente, de tal maneira que se possa discutir suas dificuldades e que tenha acesso à experiências bem sucedidas.

O magistério atravessa uma crise profunda de perda da auto-estima, da sensação de que seu trabalho não vale nada. A atitude das autoridades educacionais em implantar pacotes sem consultar os profissionais que atuam no cotidiano, reforça esse desânimo. Anima quer dizer alma; desânimo é a sensação de que se está sem alma, sem energia para enfrentar os desafios. É necessário que esses profissionais se sintam valorizados. Com esse dinheiro que será empregado nas apostilas, poderia se empregar na elaboração de um concurso e da edição de uma revista para divulgação das melhores práticas de ensino. Também se poderia organizar fóruns e debates com ampla participação de pais, alunos, educadores e autoridades para elaboração ou avaliação do Plano Municipal de Educação.

Diante da crise mundial da educação, a UNESCO organizou a Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, que elaborou o Relatório Delors, publicado com o nome de "Educação: um tesouro a descobrir". Michael Manley, primeiro ministro da Jamaica, um dos participantes dessa comissão afirma: "Para que o sistema educativo seja eficaz tem de funcionar no quadro dum contrato social, compreendido e defendido por todos."


Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.