Subdesenvolvimento não se improvisa: é obra de séculos, captou certa vez a ironia inteligente de Nelson Rodrigues A esquerdopatia à la manière, derrotada em todas as partes civilizadas do planeta, na América Latina parece resistir ao tempo, aos fatos e à sua própria história de cem por cento de fracassos. Assim é que, no Brasil, um anti-capitalista convicto e contrito chegou ao poder com mais de 53 milhões de votos; na Venezuela, o bufão Hugo Chávez, acreditando ser a reencarnação serôdia de Bolívar, vem adotando o receituário populista das esquerdas, reprimindo, de forma absolutamente antidemocrática, aos que chama de "terroristas" e "opositores" ao seu "bolivarianismo" infantil; no Equador, o presidente Lucio Gutierrez vem adotando políticas similares, prometendo ajudar os pobres mediante a ação do Estado; na Argentina, o populismo de Kirschner já produziu um calote internacional; na Colômbia, as Farc e seu terrorismo narco-esquerdista, vêm desafiando a ordem instituída há anos... Está também ocorrendo nesta parte do mundo uma tentativa de ressuscitar a teologia da libertação, que apela à Verdade do Evangelho para disseminar a mentira do socialismo, na forma de pseudo-assistência aos pobres, de programas redistributivistas, do uso da violência, do domínio dos meios culturais e da exploração do sentimento anti-americano, para assegurar o poder político. Corajosa e rigidamente combatido e condenado por João Paulo II e Bento XVI, esse movimento de intelectuais e teólogos de esquerda, que fingem desconhecer que a obediência ao Papa é obrigação de todo e qualquer católico, aproveitando-se das dificuldades econômicas, das péssimas condições sociais e da pobreza crescente geradas pelas políticas estatizantes, volta-se contra o modelo "neoliberal" (que, a rigor, jamais foi adotado por estas plagas, a não ser no Chile que, por isso mesmo, vem crescendo de forma sustentada há bastante tempo), a globalização e, evidentemente, contra os Estados Unidos, para dar o seu aval, travestido de "bênção", a políticas de invasões de terras, a um intervencionismo estatal crescente e a expropriações, justificando-as em nome de "movimentos sociais" e do próprio Jesus... As recentes manifestações anti-Bush, ocorridas em Mar del Plata e em Brasília nada mais são do que reflexos desse avanço do populismo demodée das esquerdas. A doença é tão grave que muitos crêem que ser "contra" a Alca é mesmo sinônimo de patriotismo, quando a questão não é ser contra ou a favor, mas discutir caso a caso, mercado a mercado, os interesses de nossos paises. Lembro-me de "esquerdistas" muito competentes, mas dentro de campos de futebol: Gerson (o "Canhotinha de Ouro"), Tostão, Rivellino (o mais talentoso de todos) e Maradona; recordo também, dos tempos de faculdade, de um brilhante professor que escrevia na lousa com a mão esquerda. Mas, na política latino-americana, simplesmente, não há nas esquerdas qualquer exemplo de competência, senão de barulho, de demagogia, de falta de lógica e de propostas concretas e o uso e abuso de mantras ensinados e decorados por massas de manobras eleitoreiras. O que Dieguito, Chávez e Fidel - os três patetas bufões - fizeram por conta da reunião de Mar del Plata poderia ser mais tomado como apresentações públicas de programas humorísticos, para platéias que, como nos auditórios de nossas tevês, aplaudem qualquer pessoa e qualquer histrionice, embora seu humor não possa ser comparado, por exemplo, ao de um José Vasconcelos, ao de um Cantinflas ou, mesmo, ao da nonagenária Dercy Gonçalves que, quando diz um palavrão, pelo menos o faz com naturalidade e sem segundas intenções... No entanto, infelizmente, o episódio precisa ser analisado sob um prisma bem mais preocupante. Em 1776, o PIB total das 13 colônias que originaram os Estados Unidos era equivalente ao dos 10 países da América do Sul, o que significa que eles eram tão pobres quanto nós. Quase 230 anos depois, permanecemos de chapéu na mão, à espera de um maná enviado dos céus, não por Deus, mas pela divindade-Estado que, nesses mais de dois séculos, só nos tem enviado chuvas de tributos, granizos de burocracia e corrupção e tempestades de grilhões para tolher a livre iniciativa. Pobre América Latina, que poderia ser tão rica! Bem, pelo menos nos últimos acontecimentos protagonizados pelos três patetas, nosso presidente teve o bom senso de manter-se à parte, apesar de sua desastrosa política externa terceiro-mundista. Meno male... Nota do Editor: Ubiratan Iorio é doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.
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