Volta e meia aparece alguém decretando o fim apoteótico de alguma coisa. E, quase sempre, ele está completamente enganado. Já decretaram o fim de todas as guerras, por exemplo, fazendo uma. Todos os povos da Europa, no ano de 1918, diziam que a Primeira Guerra Mundial era "a guerra que vinha para acabar com todas as guerras". Bem, como todo mundo sabe, logo depois da primeira grande guerra, houve a segunda, que também não acabou com nada, só com mais um monte de gente morta. Mais ou menos na mesma época, um artista francês chamado Marcel Duchamp, decretou o fim da arte. Ele pegou uma roda de bicicleta e mais um monte de badulaques, colocou tudo num museu, em cima de pedestais de mármore, e abriu uma exposição. Como ninguém entendeu patavina daquilo, ele teve que explicar que a arte não existia, o que existia era um jeito de olhar. Que se você olhasse para uma roda de bicicleta, ou para uma privada, e reparasse em suas linhas, suas texturas, ia perceber que aquilo era tão bonito quanto a Monalisa. Quer dizer, se tudo era a arte, o mundo não precisava mais de nenhum artista. É claro que, depois dele, o mundo acabou conhecendo Pablo Picasso, Jorge Luis Borges, Federico Fellini e Antonio Carlos Jobim. Para não deixar por menos, o filósofo Friedrich Nietzsche chegou à conclusão de que Deus estava morto, o que fez com que, lá pelos anos de 1940, todo mundo que quisesse parecer intelectual se declarasse ateu. Só esqueceram de avisar ao resto da população, que continuou freqüentando igrejas, templos, sinagogas, mesquitas e terreiros com a mesma assiduidade com que vinha freqüentado nos últimos séculos. Mas isso de decretar o fim das coisas não é mania só desses caras mais antigos não. Outro dia desses mesmo, teve um cara que decretou o fim da História. É, da História. O escritor Fukuyama, que apesar do nome, é americano, publicou em 1992 o livro O fim da história e o último homem, no qual prega que a humanidade teria atingido, no final do século XX, o ponto culminante de sua evolução, com o triunfo da democracia ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias do mundo, o que viria a nos trazer a paz eterna. Não passou muito para o mundo muçulmano entrar em ebulição, culminando na tragédia das Torres Gêmeas e na Guerra do Iraque. Quer dizer, nada tem fim, entende? - Nem vem com esse papo de professor pro meu lado... - Mas nosso casamento não pode terminar assim, querida... - Não, dessa vez é o fim e está acabado! E ela foi embora, batendo a porta na cara dele.
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